segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Capítulo Nacional: Eleito o novo Conselho Nacional da OFS do Brasil

Capítulo Nacional:
Eleito o novo Conselho Nacional da OFS do Brasil
O Capítulo é um momento de vivência fraterna, mas que serve para avaliar a caminhada e eleger o novo Conselho.

Em clima fraterno, de muita oração e reflexão, os capitulares elegeram, no sábado, dia 22 de agosto, o novo Conselho Nacional da OFS, Ordem Franciscana Secular do Brasil, no XXXVI Capítulo Nacional, realizado no Cenóbio da Transfiguração, loca de formação e espiritualidade da Diocese de Castanhal, Estado do Pará. Um momento tranquilo com muitos candidatos, através de votação eletrônica, sob a presidência da Conselheira da Presidência do CIOFS para o CONESUL: Silvia Diana e do Assistente Espiritual: Frei José Antônio.

Para Ministro Nacional foi eleito Vanderlei Suélio,GO; a Vice-Ministra Maria José, MS; Coordenadora de Formação: Marúcia Conte, PA; Tesoureiro,  Aluísio Victal, SP; Secretária, Mayara Ingred, MA; Assessor Jurídico: Antônio Benedito, PA; Coordenador da Área Norte, Jucilene Caldas; Coordenador da Área Nordeste A, Paulo Gomes, CE; Coordenador da Área Nordeste B: Ebevaldo Nascimento, PE, Coordenador da Área Centro Oeste, Luiz Mendes, DF; Coordenador da Área Sudeste, Antônio Júlio, SP; Coordenador da Área Sul Delvanir Reis, PR e os conselheiros Fiscais Titulares: Helio Gouvêa, Nivaldo Moreira e  Cláudio Luiz; Suplentes: Cleide Aparecida, Flávio Marins e Maria Isabel Barbosa.

Na noite do Sábado, a equipe organizadora do evento, presentou os capitulares com comidas regionais: Pato no tucupi, tacaca, maniçoba e caruru. Apresentações culturais deram o tom de animação com apresentação de um grupo da música regional do estilo carimbó. Um grupo de dança folclórica, também da região, que tem na sua composição jufristas e ex-jufrista, fez uma bela apresentação com cores e toda uma simbologia da dança indígena paraense. 

“Agradeço a confiança dos irmãos em ter me escolhido para mais esse serviço à Ordem e ao Reino de Deus. Espero corresponder com as expectativas, pois como fui Vice-Ministro no conselho anterior, sem que temos muitos desafios pela frente”, essas foram as palavras do Novo Ministro Eleito e empossado, Vanderlei Suélio.


Quem também teve uma passagem pelo Capítulo foi o idealizador do excelente local, o Bispo da cidade de Castanhal, Dom Carlos Verzelettti, que presidiu uma celebração eucarística. “Senti-me honrado em receber a fraternidade franciscana, vida de várias partes do Brasil. Acredito que cada um traz um pouquinho do espírito de São Francisco, nos enriquecendo com as suas experiências. Acolher vocês foi respirar um pouco o ar de São Francisco”, declarou o Bispo.

Outro Bispo, da Diocese de Abaetetuba, Dom  José Maia Chaves,  presidiu outra celebração e demonstrou satisfação pelo convite e testemunhou que os franciscanos seculares de sua diocese estão sempre à serviço. Em sua homília, ele levou a cada um dos presentes a refletir ainda mais os valores franciscanos, pois deu vários exemplos, na vida prática, de como deve viver um franciscano na família, no trabalho no cuidado até com a empregada doméstica. “Divulguem mais o carisma, precisamos impregnar os meios de comunicação, tão cheios de coisas ruins, com boas ações, com exemplos como os de vocês” aconselhou.


Posse do Novo Conselho

A posse dos conselheiros do Nacional da OFS ocorreu na missa do domingo, 23, com a simbólica passagem de uma vela acesa transferida pelo Ministro Cessante para o Ministro Eleito que passou para os demais conselheiros. Após a missa, os trabalhos prosseguiram, no auditório, com o Relatório da Juventude Franciscana, JUFRA  a votação das prioridades para o triênio de 2015-2018 e foram aprovadas as novas prioridades que serão publicadas no link do Capítulo no Site da OFS. Também e definido que Curitiba, PR será o local do próximo Capítulo, possivelmente, em 17 a 18 de março de 2017, que vai ser avaliativo.
Texto e Fotos: Edmilson Brito
Fonte:http://www.ofs.org.br/noticias/item/632-capitulo-nacional-eleito-o-novo-conselho-nacional-da-ofs-do-brasil

domingo, 19 de julho de 2015

Homilia XVI Domingo Comum - Mc 6, 30-34



Neste domingo as leituras nos ajudam a contemplar a missão do pastor e a atitude das ovelhas. Na realidade somos todos nós as ovelhas do rebanho do Senhor. Mas neste rebanho o Senhor constituiu pastores com a missão de conduzir seu povo. A primeira leitura é muito forte em relação aos pastores que deixam que as ovelhas se percam e sejam dispersas das pastagens. Israel viveu a experiência de ter pastores mais preocupados consigo mesmo do que com o rebanho. A leitura coloca em evidência o juízo sobre os pastores infiéis, a sua substituição e o zelo de Deus em cuidar do seu povo, bem como a promessa de um verdadeiro pastor. 

Deus ao enviar pastores vigia sobre o desempenho deles, pois o povo pertence a Deus. Serão pedidas rigorosas contas a estes pastores por não cuidarem bem do povo de Deus. A Igreja no seu conjunto e cada pastor deve prestar contas a Deus de como desempenha a missão recebida, tendo diante dos olhos o modelo de Jesus, o bom pastor. 
Mas muito mais do que emitir juízos sobre os pastores vamos para o evangelho contemplar a pratica pastoral de Jesus. 

O evangelho nos mostra Jesus preparando os futuros pastores da Igreja. Ele envia os apóstolos em missão, na volta Jesus os convida a um momento de descanso com Ele. Vão com Jesus descansar, rezar e avaliar a missão. Ele une a missão com a contemplação. Mas como verdadeiro pastor e no cuidado para com os missionários, Jesus não despreza as ovelhas. Saindo do barco Jesus se depara com uma multidão cansada e ansiosa para ouvir as suas palavras. Vemos aqui a atitude das ovelhas, elas procuram o pastor. 

Dizia São Josemaría Escrivá: “A fome e a dor comovem Jesus, mas, sobretudo comove-o a ignorância”. Por isso, a primeira atitude do Mestre é ensinar, antes de dar o pão Jesus ensina. E o que Jesus ensina? A arte de amar, o serviço, o caminho para que o homem seja mais humano. 
Para ser um bom pastor é preciso aprender a ficar a sós com Jesus, de retirar-se para um lugar solitário. Não é possível comunicar o que não se tem. Daí a necessidade dos momentos de oração. Jesus, após as atividades apostólicas, retirava-se para as montanhas, onde permanecia em oração durante a noite. 

É impossível ter um apostolado fecundo sem estas pausas reparadoras aos pés do Mestre, destinadas a cobrar novas forças, não apenas físicas, mas, sobretudo, espirituais. Pausa de oração e de atenção interior para aprofundar a palavra do Senhor e encarná-la cada vez melhor, na própria vida. Já ensinava São Josemaría Escrivá: “… a tua vida de apóstolo vale o que valer a tua oração”. Gandhi costumava dizer: "É melhor que a nossa vida fale por nós, mais do que as nossas palavras. Deus não carregou a cruz somente a dois mil anos, mas a carrega hoje e morre e ressuscita dia após dia. Seria uma magra consolação para o mundo se tivesse que contar apenas com um Deus histórico que morreu a dois mil anos. Não pregueis apenas o Deus que se encarnou em um determinado momento da história, mas mostrai como esse Deus vive em nós hoje". 

Tanto para nós pastores, quanto para nós, ovelhas, o exemplo de Cristo é motivo de questionamento e chamado à conversão. Para os pastores, é forte apelo a que sejam a presença dele no meio do rebanho, tendo seus sentimentos, suas atitudes, participando de sua entrega total. Pastores que não apascentam Cristo, que não vivem a vida de Cristo na carne de sua vida, não são pastores de fato; são maus pastores como aqueles do Antigo Testamento. 

E para as ovelhas o Bom Pastor hoje nos convida a que nos entreguemos totalmente a ele como ovelhas. Como a ovelha do Salmo de hoje, que confia totalmente no seu pastor, ainda mesmo que passe pelo vale tenebroso, porque sabe que o pastor é fiel, que o pastor haverá de defendê-la. Que Jesus, cheio de amor e misericórdia, nos conduza aos campos verdejantes, nos faça descansar, restaure nossas forças, guie-nos no caminho mais seguro, nos prepare a mesa eucarística e nos dê habitação na sua casa pelos tempos infinitos.

Pe. Paulo Sérgio Gouveia
Vigário paroquial da catedral
Diocese de Campina Grande

domingo, 12 de julho de 2015

Visitar o Irmão!


“Se algum dos irmãos cair enfermo, onde quer que estiver, os outros irmãos não o abandonem, ..., se necessário for, que o sirvam como gostariam de ser servidos (cf. Mt 7,12)” (RnB X,1)

Começamos a nossa reflexão com este trecho da Regra não Bulada, no intuito de percebermos o cuidado que o nosso Pai Seráfico São Francisco de Assis já expressava aos seus irmãos que por alguma ocasião estivesse enfermo ou em idade avançada como encontramos na Constituição da Ordem Franciscana: “avançando na idade, aprendam os irmãos a aceitar a doença e as crescentes dificuldades e a dar à própria vida um sentido mais profundo, no progressivo desprendimento e encaminhamento à Terra prometida. (CCGG art.27,1)

Quando somos chamados a fazer parte de uma família ou grupo nos sentimos irmãos e irmãs, quando fazemos parte da família franciscana o sentido de irmão e irmã torna-se ainda mais forte, pois não somos apenas irmãos daqueles que encontramos nas reuniões e nos encontros, mas sentimos um profundo amor fraterno por aqueles que pelo avanço da idade ou por alguma enfermidade não podem estar presentes nestes encontros.

Nas diversas fraternidades de OFS temos irmãos e irmãs que esperam o nosso abraço, nosso carinho... a nossa presença franciscana em sua casa, ou porque não dizer no leito de um hospital.

Na nossa fraternidade São Francisco, eram feitas visitas aos irmãos e irmãs idosos ou enfermos. Estas visitas eram realizadas por alguns irmãos (individualmente segundo as suas possibilidades). Por ocasião do Capítulo Avaliativo ocorrido a 17 de maio de 2015, foi exposto esta atividade,  enfatizando que aos poucos estava sendo formado um grupo de visitadores aos irmãos enfermos e idosos, o SEI (Serviço dos Enfermos e Idosos). A partir deste Capítulo, as visitas começaram a ganhar ritmo. Semanalmente, os visitadores tem se encontrado e partido em missão.

Cada visita realizada deixa um marca, tanto para quem recebe como para quem a faz. É um momento de troca, de entrega, de desapego de si mesmo, onde cada um percebe a beleza do encontro, a essência da frase  “E depois que o Senhor me deu irmãos...” (Test 14), pois em cada visita saímos preenchidos de ensinamentos, tendo em vista que muitas das vezes vemos a esperança no rosto do irmão, como destacou a nossa irmã Rosa Maria (visitadora) em uma das visitas: “fomos visitar e nós é que saímos revigorados!”

Os momentos das visitas aos irmãos são únicos, pois cada irmão expressa da sua maneira, a sua saudade do tempo em que podia frequentar a sua fraternidade, lembra de seus irmãos da mesma época, de quando realizaram sua profissão e quantos anos já tem de professo(a), dos encontros realizados, músicas que gostam de cantar, além de suas angústias e tristezas por não terem mais a oportunidade de atuarem como antes.


São instantes como estes que nos formam e nos ensinam a sermos franciscanos. Esperamos confiantes que por intercessão de São Francisco de Assis e Santa Clara, consigamos através deste serviço anunciar a Boa Nova de Nosso Senhor Jesus Cristo, àqueles que tem sede de Deus e esperam na Sua Providência Divina.

Confira mais imagens no link Fotos.

Por Ir. Franciscarla, OFS

domingo, 14 de junho de 2015

Homilia XI Domingo Comum - Mc 4, 26-34



Jesus está ensinando por meio de parábolas, que são comparações que faz com que os ouvintes reflitam sobre determinado assunto. Nestas parábolas de hoje, Jesus contempla a ação do Reino de Deus. Podemos afirmar que Jesus olha para toda a sua ação missionária, desde quando tudo começou lá na cidadezinha de Nazaré, quando do Espírito Santo, uma pobre virgem se torna mãe e a partir daí começa a irrupção de Deus na história. Desta humilde mulher nasce Jesus que quando adulto começa a pregar o Reino de Deus, isto é, a presença amorosa de Deus no meio dos homens, o convite de Deus a viver no amor. 

Vamos continuar contemplando com Jesus. Ele que começou sozinho a pregar o Reino com palavras e ações, de inicio convidou um grupo de pobres pescadores para estar com Ele e agir na mesma perspectiva anunciando o Reino, logo depois começaram a chegar às multidões, os pobres, os doentes, os abandonados, os necessitados, os pecadores. Podemos imaginar a zombaria dos “grandes”, “em volta dele (Jesus) só aparece à gentalha, pessoas que não tem futuro, uma obra deve ter o apoio dos poderosos, dos letrados, dos que tem dinheiro para que possa dar certo”. Quanta dificuldade Jesus enfrentou, até mesmo por parte dos seus discípulos. Os seus parentes até aconselhavam Ele a ir para Jerusalém, a capital, por que lá a sua mensagem poderia ser mais aceita. Porém, Jesus não cedeu, continuou na periferia ensinando, acolhendo os pobres, propondo para eles, pessoas de difícil compreensão uma novidade inaudita, construir com eles o Reino de Deus. 

De onde Jesus tirava tanta força e certeza de que o caminho era aquele? Da sua intimidade com o Pai. Na oração Jesus entendia que não podia desanimar. A Oração lhe dava o norte de sua missão e o atraia para os pobres. 

Agora dizendo estas duas parábolas, a da semente e a da mostarda, Jesus explicava a sua opção e mostrava que não estava errado. Que esta é a dinâmica do Reino de Deus, que não se começa a construir do alto e sim da simplicidade, como dizia São Josemaria Escrivá: “Não esqueças que na terra, tudo o que é grande começa por ser pequeno. – O que nasce grande é monstruoso e morre”. Que o mais importante é confiar na providência do Pai que age através do seu Espírito no coração dos homens.

O Reino de Deus não depende das estruturas, das organizações, dos planejamentos. Eles são necessários, mas são relativos. O Reino depende da confiança na ação misteriosa de Deus que aos poucos vai agindo no coração do homem. Depende também do amor e da fé na Palavra de Jesus, depende da certeza de que quem trabalha para os pobres trabalha para Deus. Depende da confiança em Deus, do sentir-se chamado para a missão. Mas também depende do nosso agir. É preciso trabalhar muito e uma vez fazendo isso confiar totalmente em Deus, com a certeza de que ele está conosco e jamais nos abandonará. Entendamos que quando algo começa de “cima” não pode contar com a presença de Deus. Por que Maria “é tão grande”? Porque Deus olhou para a “pequenez de sua serva”.

Pe. Paulo Sérgio Gouveia
Vigário paroquial da catedral diocesana
Diocese de Campina Grande

sábado, 6 de junho de 2015

Novena de Santo Antônio 2015


A Paróquia de São Francisco no bairro da Conceição celebra pela primeira vez uma novena em honra a Santo Antônio. O novenário iniciou no dia 04/06 e vai até o dia 13/06,  com missas, celebrações da palavra, quermesse e muitos louvores a Deus pela vida do Santo e Doutor franciscano.

Sintam-se convidados, todas as noites às 19h  no nosso convento.

Rogai por nós, Santo Antônio!

Paz e Bem!

X Domingo Comum - Homilia



A liturgia deste domingo mostra a realidade do homem depois do pecado. O homem tinha sido criado para viver em comunhão com Deus, mas por uma “falha” em sua opção ele decidiu afastar-se do Senhor. Daí o homem se esconde de Deus, porque tem medo dele, ora, que atitude lamentável, o homem ter medo de Deus! Um homem que não assume o seu erro jogando a responsabilidade de seu fracasso na mulher e esta jogando na serpente.

Vemos um homem medroso, com atitudes infantis, por que não tem a coragem de se assumir diante de Deus. Um homem que foge da verdade, que cria estruturas mentais para se sentir o super-homem, que opta pela angustia e pelo medo, que se refugia nas drogas, seja que tipo for, no consumismo, que acredita não necessitar de Deus, mas quando olha para si se apercebe um ser inquieto, vazio, temeroso de seu futuro. 

Na primeira leitura a Bíblia nos diz que esta ruptura, que esta revolta do homem contra Deus não foi uma decisão tomada pelo homem. Este homem tão rico em dons não teria decidido por si só a se revoltar contra Deus. Uma força exterior agiu no homem para pôr em ação as possibilidades do mal que já estava nele. A presença misteriosa, mas real do tentador, de Satanás, se faz sentir desde as primeiras paginas da Bíblia e a sua principal ação foi ter dividido o homem em si mesmo. O ser humano passou a ser um ser dividido, com suas mais diversas tendências que nos manipulam e nos levam a fazer o mal. À pergunta que Deus faz “Onde estás?”, não é tanto uma pergunta no sentido geográfico e sim existencial. E diante desta pergunta nem sempre sabemos a resposta. 

Satanás é um ser pessoal e invisível, mas cuja ação se manifesta pela atividade de outros seres ou pela tentação. Contudo o poder de Satanás não é infinito. Ele é uma criatura, poderosa pelo fato de ser anjo, mas não pode impedir a construção do Reino de Deus. Não esqueçamos de que ele atua no mundo por ódio contra Deus e sua ação causa graves danos de natureza espiritual e de modo indireto até de natureza física para cada homem individual, mas também para a sociedade. 

Porém, tomemos cuidado para não ficar culpando o demônio por tudo de mal que acontece em nossas vidas. O grande erro de nossos primeiros pais foi não terem tido a coragem de assumir a sua culpa.

Mas esta tática de culpar o outro e não assumirmos os nossos erros não é apenas práxis do homem religioso. Aqueles que não têm fé jogam a culpa nas condições psicológicas ou sociológicas adversas. No fundo somos todos Adão e Eva, não assumimos os nossos erros. Na realidade o que Satanás faz é por em nosso coração as divisões. Uma vez acontecendo isso somos levados pelas forças do mal. 

Porém, não esqueçamos que há um único principio, o do bem. E se Deus permite a ação do demônio é porque através dela ele nos educa e nos ajuda a tomar as verdadeiras decisões. O homem não pode considerar-se um joguete das forças do mal. Ele pode fazer uma opção pelo bem e onde reina o bem o mal não tem lugar. Mas, não devemos ignorar e nem desprezar as forças do mal. Estas não tem a vitória final, mas a sua atuação fazem grandes estragos em nossas vidas. 

O cristão não deve ter medo do Demônio, pois em Cristo somos vitoriosos. Toda a vida pública de Jesus foi uma luta contra Satanás. Uma das principais ações de Jesus é expulsar os demônios. Jesus coloca as coisas no seu devido lugar! Nele trava-se o grande combate entre o bem e o mal, entre Deus e Satanás, o adversário da humanidade. Jesus é mais forte do que o príncipe dos demônios. Veio a este mundo para combatê-lo. Vence-o no deserto após o seu batismo; vence-o expulsando os demônios. É Ele o homem forte que guarda a casa. Tudo isso Ele o faz pela força do Espírito Santo.

Poderemos vencer Satanás colocando em prática a vontade de Deus. Os nossos primeiros pais foram derrotados por que ao invés de ouvir a Palavra de Deus escutaram a palavra da serpente. É imprescindível a escuta da palavra, o contato com a Palavra, é ela que nos cura e nos liberta, por que ela nos ensina a amar e somente amando destruímos o ódio que tenta dominar o mundo.

Pe. Paulo Sergio Gouveia
Vigário paroquial da catedral diocesana
Diocese de Campina Grande

sábado, 30 de maio de 2015

Homilia - Solenidade da Santíssima Trindade


Hoje não recordamos um evento da história da salvação, como nas outras grandes solenidades do ano litúrgico. Celebramos um mistério, o mistério cristão por excelência, aquele do qual nasceu toda a história da salvação, aquele pelo qual nossa religião se diferencia em seu centro de todas as outras. O povo hebreu adorava um só Deus, Javé, conhecia somente a unidade de Deus. Os povos pagãos adoravam mais divindades. A religião cristã conhece a unidade na diversidade: um só Deus em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.
Não nos cabe hoje desvendar ou especular o Mistério da Trindade, temos de confessar que por mais esforço que se faça para explicar esta teologia trinitária, ela continua sendo abstrata, de difícil compreensão para todo fiel cristão. Não basta saber coisas sobre Deus e falar Dele. Isto ainda não é fé. Devemos chegar a encontrar-nos e conversar com Deus mediante a nossa oração e o nosso diálogo pessoal. Nós devemos descobrir o que a Trindade é para nós, isto é, para a nossa Salvação, e Ela- a Trindade- é o mistério do amor de Deus que desce no meio de nós, desce ao encontro do homem, adapta-se à sua pequenez, a seus passos de criança, vem viver conosco. Meditando sobre a Trindade, dizia São Josemaria Escrivá: “Deus é o meu Pai, Jesus é meu amigo íntimo, que me ama com toda divina loucura do seu coração. O Espírito Santo é meu consolador, que me guia nos passos de todo o meu caminho. Pensa bem nisso. Tu és de Deus e Deus é teu!”.
A Revelação deste Mistério foi a maior novidade trazida por Jesus, conduziu-nos ao conhecimento de uma comunhão de três pessoas. Deus é amor; e o amor não pode ficar fechado em si mesmo, parado, mas ele se expande, exatamente porque é amor. Deus não é amor somente a partir de alguns milhões de anos, quando após a criação fez o homem e a mulher para amar, Ele é amor desde a eternidade. Deus não teve necessidade do homem para amar alguém, havia Nele mesmo uma trindade. Nós fomos chamados à existência para entrar naquela fornalha de amor. Deus não é um ser solitário e mudo; fechado num eterno silêncio, mas por ser trino é amor e sai de si mesmo para o outro. Ele não vive numa solidão desoladora, mas é fonte de vida que se entrega incessantemente; e fomos criados assim, à imagem da Trindade e a prova mais forte disso é que somente o amor nos torna felizes, porque vivemos em relação e vivemos para amar e ser amados.
Caminhamos, portanto, com as três pessoas divinas, mas muitas vezes caminhamos sem reconhecê-las, como os discípulos de Emaús que caminharam com Jesus sem perceber que era ele. Os santos não são assim; para eles havia um diálogo, uma presença percebida e constante. Santa Teresa tinha a impressão de viver num castelo em companhia constante das três pessoas: o castelo interior. Outra mística se dirige à Trindade chamando-a “os meus Três” e escreve: “Eu encontrei o céu na terra, porque o céu é a Trindade e a Trindade está dentro de mim”. A vida cristã, sem esta âncora interior e sem esta força, é vazia, cansativa, sobretudo transcorre fora do âmbito do amor; com eles ao invés, se transforma num paraíso.
Na sua humildade dócil, a Virgem Maria, fez-se serva do amor divino: acolheu a vontade do Pai e concebeu o Filho por obra do Espírito Santo. Nela o Todo poderoso construiu um templo digno para si, fazendo dela, modelo e imagem da Igreja, mistério e casa de Comunhão para todos nós. Maria, espelho da Santíssima Trindade, nos ajude a crescer na fé no mistério da Trindade. Amém!

Pe. Hebert Guedes
Vigário paroquial
Paróquia Nossa Senhora das Dores - Monteiro, PB
Diocese de Campina Grande

sábado, 23 de maio de 2015

Homilia - Pentecostes



Há cinquenta dias passados estávamos a celebrar o Tríduo da Paixão e Morte e Ressurreição do Senhor. O Filho de Deus se entrega nas mãos dos homens e sofre a violência da paixão. Hoje dia de Pentecostes celebramos como que “as consequências da violência que os homens fizeram com o Filho de Deus”. Celebramos a resposta que Deus dá a nossa violência para com Ele. E a forma como Deus responde a nossa maldade e egoísmo é dando-se Ele mesmo a nós e nos concedendo o dom do Espírito Santo. Aqui podemos contemplar como Deus reage ao ódio humano, em um ato de violência Deus nos oferece o seu amor. Deus se “vinga” do homem ensinando-o e capacitando-o para amar.

Por isso, o Espírito Santo é chamado Dom de Deus e o dom de Deus não pode ser outra coisa a não ser o amor. O Espírito Santo se dá como extraordinária experiência de bondade que invade o nosso espírito e o nosso corpo, em uma intensa emoção que vibra em uma suave alegria, em uma harmonia interior que brota do esplendor da beleza de Deus e nos remete ao belo que é o próprio Deus. 

Como consequência deste dom, o cristão tem necessidade de abrir-se ao outro, oferecer-se, o Espírito o torna capaz de ter compaixão sincera e generosa. Se o Pai e o Filho nos doam a sua vida divina pelo Espírito, nossa tarefa é transforma a nossa vida em um dom para Deus e para o próximo, sentindo aquilo que ele sente, colocando-se no seu lugar, entrando no seu coração e nos seus pensamentos e participando diretamente na sua situação, até chegar a assumi-lo com total generosidade, ou melhor, com a generosidade de Deus. Na realidade receber o Espírito Santo é se humanizar. “A medida da santidade é a medida da nossa humanidade”, dizia São João da Cruz.

Os apóstolos estavam de portas fechadas com medo dos judeus. Porta fechada não apenas do espaço físico, mas também do coração. Não sabiam amar, por isso eram medrosos. Somente a força do Espírito Santo transformou homens tímidos em anunciadores do Evangelho. Quantas vezes o medo paralisa a ação evangelizadora: medo do fracasso, de enfrentar o mundo, medo de não conseguir testemunhar a Palavra, das críticas, medo de mostrar as nossas fragilidades, medo de amar, medo de doar-se, medo de se aproximar do outro e mostrar para ele que o mesmo tem um lugar muito especial em nosso coração. No fundo todos estes medos se resumem em um só: medo de sermos humanos. A união com o Espírito nos liberta destes medos.

E como podemos viver esta realidade do Espírito? Através da oração. Ela é a força motriz de toda a vida, de todos os esforços humanos. É a conversação com Deus, é a relação pessoal com Deus, é a união com Deus, é a bússola do coração das virtudes. A oração é a expressão da vida do Espírito Santo em nós, é o respirar do espírito, é o que mede a grandeza da nossa vida espiritual. A Igreja respira com a oração e esta só é autêntica quando nos vem do Espírito Santo. Devemos orar sem cessar até que ó Espírito Santo desça sobre nós e nos torne homens e mulheres da ternura.

Houve quem perguntasse a um Padre do deserto: "Qual a perfeição da oração?" O Padre se pôs de pé, estendeu as mãos para o céu e os seus dedos se tornaram como dez velas acesas, Disse o Padre então: Deves tornar-te todo fogo.

O Espírito é necessário para a edificação da Igreja. É o Espírito Santo que inflama a alma sem cessar e a une a Deus. Princípio ativo por natureza, o Espírito Santo tem uma particular natureza de fogo. No mundo espiritual, esta Força-Fogo derrama sobre as criaturas as chamas da graça que nos faz participar da natureza divina. Flamejando línguas de fogo que vão pousar sobre a fronte dos eleitos, circundando-os de glória, a graça com os seus dons diversas, doados pelo Espírito Santo, doador por excelência. 

O Espírito Santo derrama sobre o cristão os seus carismas e faz da criatura o reflexo vivo do esplendor do Verbo, revestindo-a da glória de Cristo-Deus. O cristão cheio do Espírito Santo é transformado em Jesus Cristo. É a festa trinitária na vida do cristão. É no centro de nossa alma que o Espírito pode operar a nossa transformação e através das nossas mãos e pés direcionados para o outro que mostramos ao mundo que não vivemos segundo a carne e sim segundo o Espírito. Tomemos consciência desta presença.

Pe. Paulo Sérgio Gouveia
Vigário paroquial da catedral diocesana
Diocese de Campina Grande

sábado, 16 de maio de 2015

Homilia da Ascensão do Senhor (17/05/15)



Hoje Cristo diante dos seus discípulos sobe ao céu. É a sua entrada triunfal na glória depois das humilhações da paixão. É à volta para a casa do Pai, agora não somente com a sua divindade, mas também conduzindo a sua humanidade glorificada. Os evangelistas narram o acontecimento com muita sobriedade, mas mesmo assim ressaltam o poder e a glória de Cristo.

Não podemos conceber a ascensão de Cristo como “a sua subida para um espaço no alto”. É preciso perceber o seu significa mais profundo: A ascensão de Cristo significa que através de Cristo a humanidade foi introduzida com Ele no céu. O céu não é um espaço geográfico, mas uma nova dimensão, significando que o homem tem lugar “em Deus”. Isto se tornou possível devido à união da humanidade com a divindade na Pessoa Divina do Filho de Deus, Jesus Cristo, que agora é elevado a gloria do céu. Marcos ao narrar o batismo de Jesus afirmou que o céu se rasgou. A entrada do Filho de Deus no mundo rasgou o céu e este nunca mais será costurado. Permanecerá aberto para que o homem tenha em Cristo acesso ao Pai. Porém, quem é Cristo? “O Caminho, a Verdade e a Vida”, disse Ele. Então Cristo é o Caminho que nos leva para o Céu e o Céu é a Verdade e a Vida, que é o mesmo Cristo. “Entrar” no céu é viver na plenitude da Verdade e da Vida que só poderemos viver depois da nossa viagem deste mundo, por que aqui temos apenas um vislumbre do que seja a Verdade e a Vida. Viver no Céu é viver em Cristo, Verdade e Vida.

Assim, Cristo exaltado se torna o céu, pois este não é um lugar mais uma pessoa: Jesus Cristo, no qual Deus e o homem estão unidos de modo inseparável. Vamos para o céu e até penetramos no céu na medida em que vamos para Jesus Cristo e até penetramos nele. No final da oração eucarística dizemos “Por Cristo, com Cristo e em Cristo”. E São Paulo afirma na Carta aos Colossenses que “tudo foi criado por Ele, nele e para Ele”. O Céu é viver Nele, é entrar na dimensão Dele. 

Compreendemos por que os apóstolos estão alegres, pois a ascensão para eles não significava uma despedida, uma ausência de Cristo no mundo, pelo contrário com a ascensão inaugurava-se uma nova presença de Cristo no mundo. Santo Agostinho afirmava: “O Senhor Jesus Cristo não deixou o céu quando veio ate nós; também não se afastou de nós quando subiu novamente ao céu, por isso, ele continua sofrendo na terra através das tribulações que nós os seus membros enfrentamos”.

Celebrar a ascensão de Cristo é expressar alegria e esperança. A esperança de que Deus tem um espaço para o homem e de que nele já somos vitoriosos. Mais uma vez Santo Agostinho afirma que: “Devemos trabalhar aqui na terra de tal modo que, pela fé, esperança e caridade já descansemos com ele no céu. Cristo está no céu, mas também está conosco e nós permanecendo na terra, estamos também com ele. Por sua divindade, por seu poder e por seu amor ele está conosco, nós podemos realizar a nossa união com ele pelo amor que temos para com ele”. 

É certo que já não é a mesma presença, não é mais uma presença segundo a carne, mas segundo o Espírito. Este novo modo de presença é até preferível à primeira. Na sua nova condição Cristo pode se tornar presente em cada homem, ele se tornou o nosso contemporâneo que caminha conosco. 
Cristo desceu do céu para que nós subamos com ele. Meditando neste mistério de Jesus tomemos consciência de que a nossa pátria é o céu e de que o céu é estar com a Trindade.

Pe. Paulo Sérgio Gouveia
Vigário paroquial da catedral diocesana
Diocese de Campina Grande

domingo, 3 de maio de 2015

Homilia do V Domingo da Páscoa



A liturgia deste domingo nos mostra o itinerário da vida cristã: conversão, inserção no mistério de Cristo, permanência neste mistério e progresso na vida de caridade.
 
Na primeira leitura escutamos a chegada de Saulo em Jerusalém depois de sua conversão no caminho de Damasco. Todos tem medo daquele que, iluminado por uma graça extraordinária, de perseguidor feroz que era do cristianismo se torna missionário do evangelho. A conversão exige um longo trabalho de superação dos vícios e pecados, para mudar de mentalidade e de comportamento. A conversão não é um mero episodio, mas algo que empenha por toda a vida e não é uma conversão somente a Deus, mas também a Igreja. O acolhimento da comunidade se torna sinal do acolhimento de Deus na vida da pessoa que se converte.

Uma vez convertido, o batismo enxerta o homem em Cristo para que viva a sua vida. A vida do seguidor de Jesus não é mais uma vida somente natural, mas uma vida divina. Participa da vida de Deus, está em comunhão com Jesus não somente pela doutrina ou pela vontade, mas de uma maneira intima e profunda. Podemos afirmar de uma maneira ontológica, isto é, a união com Cristo implica o mais íntimo do ser da pessoa. No batismo acontece de forma sacramental, mas é preciso que se torne existencial e daí a necessidade de permanecer em Jesus, está com ele, conviver com ele, fazer dele o tudo da nossa vida. 

À medida que nós permanecemos unidos a Cristo, Cristo permanece em nós comunicando-nos a sua vida divina. Assim o cristão produzirá abundantes frutos de santidade, isto é, de caridade. Não somos capazes de obter nada na vida sobrenatural se não estivermos em comunhão com Cristo. O cristão jamais deve se deixar arrastar pelo medo ou desconfiança, os meios que não tem em si para trilhar o caminho da santidade encontra-os em Jesus. Ele usa estes meios, tribulações, provações, alegrias, tristezas para nos podar, nos limpar para que possamos dar mais frutos. Para nos fazer crescer. Como já dizia Santa Terezinha “o teu amor me fez crescer”. Como doe quando o Senhor nos poda, mas depois que riquezas de crescimento na união com Deus. Só assim conseguiremos dar frutos de vida eterna. 

Cabe ao cristão viver a sua vida nesta total adesão a Cristo pela fidelidade pessoal como afirma a expressão “permanecei em mim”. A melhor maneira de permanecermos em Cristo é que as suas palavras permaneçam através da fé que nos ajudará a aceitá-las e do amor que as fará por em pratica. 

Na segunda leitura nos é lembrado uma das palavras do Senhor de fundamental importância: “amai-vos uns aos outros”. O exercício da caridade fraterna é o sinal que distingue os cristãos precisamente por que testemunha a sua comunhão vital com Cristo. Na verdade é impossível viver em comunhão com Cristo, cuja vida é essencialmente amor, sem viver no amor e produzir frutos de amor. São João insiste vigorosamente na prática do amor.

Pe. Paulo Sérgio Araújo
Vigário da Catedral diocesana
Diocese de Campina Grande

sábado, 25 de abril de 2015

Capítulo Regional Eletivo


Está acontecendo durante este final de semana (24, 25 e 26 de abril) no Convento de Santo Antônio em Ipuarana, Lagoa Seca, mais um capítulo eletivo da OFS, regional (RN/PB). Neste encontro de convívio fraterno, nossos irmãos capitulares de todas as fraternidades que compõem o Regional RN/PB sob a luz do Espírito Santo e as bençãos de nosso Pai Seráfico São Francisco elegerá o novo conselho da fraternidade bem como o ministro, vice-ministro, secretário e tesoureiro para o próximo triênio.


O encontro está acontecendo com bastante reflexão e empenho por parte dos irmãos e irmãs professos da OFS. Além disso, a presença de irmãos do conselho nacional e dos assistentes espirituais da 1° Ordem.



Rezemos ao Pai que conduza os trabalhos!

Paz e Bem! 

Homilia do IV Domingo da Páscoa - Jo 10, 11-18



O tema central da liturgia deste domingo é a salvação que conseguimos em nome de Jesus. Pedro diz que o único nome, ou melhor, a única pessoa que o Pai nos deu e que nos salva é Jesus. Como o homem não podia alcançar pelas suas forças a salvação Cristo se tornou a ponte que une o céu e a terra.

Mas, em que consiste essa salvação? Contemplemos o projeto inicial de Deus. Quando Ele fez o mundo criou o homem e a mulher a sua imagem e semelhança. A Bíblia afirma que Deus disse: “Façamos o homem a nossa imagem e semelhança. E Deus criou o homem a sua imagem”. Isto significa dizer que o homem foi criado à imagem de Deus com a vocação se tornar semelhante a Ele. Esta semelhança com Deus o homem obteria convivendo com Ele no Paraíso, mas o homem pecou se afastando deste projeto. Perdeu assim a comunhão com Deus e aí se tornou difícil chegar a ser semelhante a Deus. 

Por isso, o Filho de Deus assume a nossa semelhança e nos dar as condições para que nos tornemos semelhantes a Ele. Há como afirma a liturgia uma “troca de dons entre o céu e a terra”. Deus se faz um de nós para que nós sejamos iguais a Ele por participação. 

A primeira atitude que Deus faz nesta caminhada para nos tornar semelhantes a Ele é nos dá a graça de sermos seus filhos. Toda a história da redenção, desde a encarnação até a cruz e a ressurreição, é para que nós sejamos adotados como filhos de Deus. Para João este é o grande presente que o Pai nos deu. A filiação divina é o alicerce onde construímos a nossa santidade, onde começamos a viver a compaixão, a misericórdia, o amor que nos assemelham a Deus.

Porém, este é o início, com a filiação divina e contemplando Jesus, seja na Palavra, seja na Eucaristia ou nos irmãos mais pobres, a nossa vida vai sendo modelada pela vida de Jesus, passamos a ter o mesmo comportamento de Jesus, e nos tornamos “outros Jesus” no mundo e assim a salvação começa a acontecer em nossa vida. 

Entramos na escola do bom pastor. Jesus cuida de nós e nós passamos a cuidar dos preferidos de Jesus, Ele deu a sua vida por nós e o Espírito Santo vai aos poucos criando em nós o desejo de colocar a nossa vida a serviço dos irmãos. Começamos a aprender que salvar a vida não é nos refugiarmos em uma instituição religiosa ou levantar a mão e dizer que “aceitou Jesus”, mas é viver a compaixão, é gastar a vida servindo ao outro, seja em nossa família, seja no trabalho ou onde houver alguém necessitado de salvação. Somos salvos á medida que salvamos, esta é a regra. 

Enquanto estivermos preocupados com nós mesmos, com as nossas satisfações sejam de ordem psicológicas ou mesmo sentimental religiosa, onde muitas vezes buscamos uma paz que na realidade é fruto do nosso egoísmo, estamos nos enganando a nós mesmos e não estamos sendo salvos. Ser salvo é doar a vida pelos irmãos.

Pe. Paulo Sérgio Araújo
Vigário paroquial da catedral diocesana
Diocese de Campina Grande

sábado, 11 de abril de 2015

A chance de Tomé e a nossa chance


Passamos uma semana celebrando a Páscoa, a chamada 8ª da Páscoa, ou seja, em todos os 8 dias subsequentes ao Domingo de Páscoa, a liturgia é a mesma do dia da Páscoa, isso se dá pela grandiosidade deste dia para nós, cristãos. Aliás, iremos continuar, liturgicamente, na festa Pascal até Pentecostes, ou seja, por 50 dias.
Neste fim de semana nos deparamos no Evangelho com a figura de Tomé diante do Ressuscitado. Crer ou não crer, ver ou não ver… um dialogo simples, porém, de grande profundidade teológica.
Jesus está de pé no meio dos discípulos. É a posição da ressurreição. Dá-lhes a paz. Envia-os em missão. Comunica-lhes seu Espírito Santo. Confia-lhes o ministério da reconciliação. Contudo, falta alguém, falta Tomé. Quando volta, não acredita na palavra dos irmãos, precisa ver, precisa tocar… O que os outros falam não tem valor, sua fé está fragilizada: quer ver para crer.
Somos parecidos com Tomé, aliás, muito parecidos com ele…Cremos se vemos, cremos se tocamos, cremos se recebemos graças… Muitas vezes quando não recebemos o que pedimos enfraquecemos, desacreditamos, abandonamos a vida de fé.
Contudo, Tomé tem uma nova chance, nós temos uma nova chance; Tomé viu, tocou, acreditou…Nós não vimos, não tocamos, e cremos?
Este domingo é chamado também de Domingo da Divina Misericórdia, instituído pelo Papa João Paulo II… É a Divina Misericórdia que nos dá sempre uma nova chance! Que sempre nos dá a possibilidade de estar novamente com Ele.
Frei Alvaci Mendes, ofm

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Um gesto, muitas lições: desdobramentos do lava-pés na vida cristã


Por Frei Gustavo Medella, ofm

Quinta-feira da Semana Santa. Missa vespertina da Ceia do Senhor. Lava-pés. A abertura do Tríduo Pascal, ao mesmo tempo que insere os cristãos no núcleo dos mistérios da fé, traz um resumo da lição de amor-serviço ensinada pelo Mestre Jesus. Os próprios elementos do texto bíblico e da liturgia levam o fiel a percorrer o caminho que parte da caridade e chega à plenitude da Ressurreição, passando antes pela entrega total na cruz. Esta reflexão quer olhar com atenção para o primeiro passo do Tríduo Pascal, especialmente o lava-pés, apontando para alguns elementos em torno deste gesto, que traduz simbolicamente toda ação e pregação de Jesus Cristo.
O primeiro passo será a contextualização do episódio dentro do quadro da Semana Santa. Em seguida, serão expostos e comentados alguns passos do lava-pés descritos no texto bíblico do Evangelho de São João. A liturgia da Missa vespertina, a necessidade de se deixar lavar os pés pelo Senhor, o ministério do sacerdote, os atos-atitude de serviço e o amor de São Francisco pelo ensinamento do lava-pés também fazem parte desta reflexão.
Trata-se apenas de um percurso possível, diante da infinidade de caminhos que a riqueza do gesto de Jesus oferece. Cada leitor pode, a partir das provocações aqui apresentadas, construir seu próprio itinerário na vida de fé, no seguimento de Jesus e na prática do amor-serviço.
1. O texto de João 13 no quadro da Semana Santa: a véspera do grande serviço de Jesus
 “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). O início do texto já se refere à “hora” em que Jesus passaria deste mundo para o Pai. Trata-se de uma referência à entrega total na cruz do “Filho do Homem” (cf. Jo 3,14).
De acordo com Alviero Niccaci e Oscar Battaglia[*], o capítulo 13 marca o início da seção na qual Jesus, antes de sua “hora derradeira”, passa os últimos ensinamentos a seus seguidores. “Quem fala nesses discursos não é um homem na véspera de sua morte, trêmulo e perdido, mas o Mestre e Senhor, que com plena consciência vai ao encontro da vontade do Pai”.
Ainda segundo os mesmos autores, o gênero literário deste trecho, que começa no capítulo 13 e se estende até o 17, parece o dos “discursos de adeus”. Seria uma espécie de “testamento espiritual de um grande personagem que, nas vésperas da morte, reúne junto a si filhos ou seguidores, anuncia-lhes a sua próxima partida, consola-os da tristeza que vão sentir, recorda-lhes quanto Deus realizou por seu intermédio, convida-os a permanecerem unidos na obediência a seus mandamentos, prevê perseguições para o futuro, mas assegura a vitória final sob a guia de seu sucessor”.
2. Os passos do lava-pés no texto bíblico de Jo 13,1-15
O texto começa situando temporalmente o episódio: “Antes da festa da Páscoa…”. Seria, segundo alguns estudiosos, o 13 de Nisan (março-abril), primeiro mês do calendário hebraico. Outro elemento de destaque neste primeiro versículo é a perfeita consciência de Jesus acerca dos últimos momentos de sua missão: “Sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai”.
Com relação ao trecho “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”, a nota explicativa da Bíblia de Jerusalém aponta: “Pela primeira vez, João coloca explicitamente a vida e a morte de Jesus sob o sinal do amor que ele tem aos seus”.
No segundo verso, dois aspectos importantes: o primeiro aparece na partícula “durante a ceia”, estando Jesus reunido com os seus em refeição, que simboliza cumplicidade, partilha e comunhão; em seguida, a afirmação de que o “diabo colocara no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, o projeto de entregá-lo” chama atenção para o fato de que o poder diabólico pode agir por detrás dos homens.
Sobre a passagem “sabendo que o Pai tudo colocara em suas mãos e que ele viera de Deus e a Deus voltava” (v.3), Niccaci e Battaglia comentam: “Entre Jesus e Deus há uma relação de amor que se exprime, por parte do Pai, no dom dos poderes reais sobre todos os homens. Com tal consciência o Cristo se encaminha para a morte como para sua entronização real; mas a sua realeza se atua através do serviço, como sugere o lava-pés”.
Nos versículos 4 e 5, há a descrição do ato de Jesus: “Levanta-se da mesa, depõe o manto e, tomando uma toalha, cinge-se com ela. Depois coloca água numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha que estava cingido”. Jesus tem o poder de dar a sua vida e de depois retomá-la. O gesto de depor o manto remete à morte de Jesus. Cingir-se com uma toalha e lavar os pés eram ações próprias dos escravos (cf. 1Sm 25, 41). No caso do episódio narrado, o Senhor e Mestre é quem assume esta função e a explicação desta iniciativa aparece mais adiante, na conclusão da passagem evangélica.
A narrativa segue e retrata agora o diálogo entre Simão Pedro e Jesus (v. 6-10). “Chega, então a Simão Pedro, que lhe diz: ‘Senhor, tu, lavar-me os pés?!’ Respondeu-lhe Jesus: ‘O que faço, não compreendes agora, mas o compreenderás mais tarde’. Disse-lhe Pedro: ‘Jamais me lavarás os pés’. Jesus respondeu-lhe: ‘Se eu não te lavar, não terás parte comigo’. Simão Pedro lhe disse: ‘Senhor, não apenas meus pés, mas também as mãos e a cabeça’. Jesus lhe disse: ‘Quem se banhou não tem necessidade de se lavar, porque está inteiramente puro. Vós também estais puros, mas não todos’”.
Em suas respostas, Pedro oscila entre a recusa e o entusiasmo, ambas atitudes marcadas pela nebulosidade de uma certa incompreensão. No primeiro momento, não compreende o gesto de Jesus, excluindo-se da comunhão com o Mestre e da participação no discipulado. Diante do alerta de Cristo, muda de ideia, mas ainda demonstra uma compreensão parcial, encarando o lava-pés como simples purificação. Mais uma vez Jesus o esclarece.
O final da narração e a explicação dos gestos aparecem nos versículos 12 a 15.  “Depois que lhes lavou os pés, retomou o seu manto, voltou à mesa e lhes disse: ‘Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais de Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu o sou. Se, portanto, eu, o Mestre e o Senhor, vos lavei os pés, também deveis lavar-vos os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, vós também o façais’”.
Se a deposição do manto faz referência à morte, sua retomada acena para a ressurreição. A mensagem do lava-pés é, portanto, ação simbólica do serviço. É o legado de Cristo aos seus. O Senhor e Mestre deu o exemplo e deixou a instrução a quem quiser segui-lo.
 3. A liturgia de lava-pés
Conforme dito anteriormente, a Missa vespertina da Ceia do Senhor, da qual faz parte o lava-pés, marca a abertura do Tríduo Pascal. Logo no início, na antífona da entrada, aparecem dois elementos fundamentais de todo o mistério celebrado no tríduo: “Acruz de nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa glória: nele está nossa vida e ressurreição; foi ele que nos salvou e libertou” (cf. Gal 6,14) (grifo do autor). Percebe-se, desde já, que na cruz Jesus presta seu grande serviço ao gênero humano: a salvação e a libertação.
A celebração deste dia é marcada pelo contraste. A cor litúrgica, o branco, simboliza a pureza, a alegria, a vitória. No canto do “Glória”, rompe-se momentaneamente a austeridade quaresmal e os sinos soam com badaladas solenes, acompanhados pelos instrumentos, que logo em seguida vão se calar. Recomenda-se que, após o hino de louvor, todos os cantos sejam executados a capela, permanecendo esta prescrição até o Aleluia festivo da Vigília Pascal, quando se dá a explosão de alegria na Ressurreição.
Na oração da coleta, o sacerdote, em nome de toda assembleia, reza: “Ó Pai, estamos reunidos para a santa ceia, na qual o vosso Filho único, ao entregar-se à morte, deu à sua Igreja um novo e eterno sacrifício, como banquete do seu amor. Concedei-nos, por mistério tão excelso, chegar à plenitude da caridade e da vida”. A Ceia do Senhor, o banquete do amor no qual Jesus se entrega, é o grande serviço que Ele presta aos seus. Lavada em Cristo, a Igreja deseja alcançar a totalidade da vida e não tem dúvidas de que para tanto o único caminho é o do serviço gratuito e amoroso.                           .
De acordo com a sequência prevista, o lava-pés propriamente dito vem depois da homilia, na qual o presidente, de acordo com o que prescreve o Missal Romano, deve focalizar “os principais mistérios celebrados por esta Missa (a instituição da Sagrada Eucaristia e do sacerdócio, e o mandamento do Senhor sobre a caridade fraterna)”. Trata-se de um gesto marcante. Neste momento, o sacerdote depõe a casula (que na maioria das vezes é dourada) para cingir-se com uma toalha e lavar os pés daqueles que representam os apóstolos.
Diz o Missal: “Os homens escolhidos são levados pelos ministros em lugar conveniente”. A escolha destes homens não deveria se pautar no acaso ou na praticidade. Seria muito conveniente que, dentre os escolhidos, estivessem representantes autênticos dos “últimos” da sociedade: empobrecidos, órfãos, desempregados, prisioneiros, doentes, idosos abandonados… Todos precisam ser lavados em Jesus, mas estes devem ser os primeiros beneficiados pelo serviço dos cristãos. Seguir a Cristo significa também lavar os pés de todos eles.
Segue-se a Missa, a partir da Oração do Fiéis. Sugere-se também que se faça uma procissão com donativos para os pobres. A antífona prevista para este momento, caso ocorra, é: “Onde o amor e a caridade, Deus está”.
Depois da comunhão, o presidente reza: “Ó Deus todo-poderoso, que hoje nos renovastes pela ceia do vosso Filho, dai-nos ser eternamente saciados na ceia do seu reino”. Terminada a oração, procede-se a trasladação do Santíssimo Sacramento, que nesta noite é colocado em um local à parte para adoração. Não há bênção final. Os fiéis são convidados pelo Senhor para orar e vigiar (Mt 26,38).
Durante a procissão com o Santíssimo, pode-se entoar o hino “Canta, Igreja” que, em sua terceira estrofe diz: “Celebrando a despedida com os doze ele ceou. Toda Páscoa foi cumprida, novo rito inaugurou. E seu corpo, pão da vida, aos irmãos ele entregou”.
O Missal Romano prescreve como última instrução: “Os fiéis sejam exortados a adorarem o Santíssimo Sacramento, durante algum tempo da noite, segundo as circunstâncias do lugar. Contudo, após a meia-noite, esta adoração seja feita sem nenhuma solenidade”.
4. Ter os pés lavados por Jesus: condição para ser discípulo
 “Disse-lhe Pedro: ‘Jamais me lavarás os pés’. Jesus respondeu-lhe: ‘Se eu não te lavar, não terás parte comigo’”. (Jo 13,8). Mais uma vez evocamos o diálogo entre Jesus e Pedro. Deixar-se lavar por Jesus é condição indispensável para a comunhão com o Mestre, um desafio, um constante exercício de conversão. Exige humildade e comprometimento do discípulo.
No batismo, o ser humano é lavado em Jesus Cristo. Porém, na caminhada da vida, muitas são as “poeiras” que se aderem aos pés daqueles que caminham. Neste momento, se faz necessária o encontro muito íntimo com o Cristo do lava-pés, que deve limpar o coração humano do egoísmo, da ganância, do desânimo e de toda espécie de mal. Todos precisam ser lavados.
Neste processo de purificação/conversão contínua, algumas atitudes são fundamentais e o Salmo 50 (Sl 50, 3-10) oferece um itinerário consistente:
a) Implorar a Misericórdia de Deus (vv. 3-4). É o reconhecimento diante do Pai todo-poderoso, rico em compaixão.
 b) Identificar as sujeiras (vv. 5-7). Deus conhece cada um de seus filhos por inteiro (Sl 138). O autoconhecimento torna-se, portanto, um descortinar-se diante do Pai amoroso. Trata-se de um exercício de humilde busca daquele que deseja ser lavado por Jesus. Mergulhar profundamente no próprio interior para descobrir aquilo que vem atrapalhando a relação com Deus e com o próximo: egoísmo, orgulho, comodismo.
c) Reconhecer o amor de Deus e deixar-se lavar pelo Pai (vv.8-9). Restitui-se a Deus o que é de Deus (Mt 22,21). Aquele que ama seus filhos vem ao socorro deles: lava-os e purifica-os.  Converte seus corações de pedra em corações de carne (cf. Ez 36,26). Mudar o coração significa mudar-se por inteiro, aguçar a sensibilidade. O coração de pedra é duro, inflexível não sabe perdoar, vive só. O coração de carne é pulsante, vivo, capaz de se dilatar para acolher e amenizar as grandes dores humanas.
d) Alegrar-se com as maravilhas operadas pelo Senhor (v. 10). O Filho sente-se amado porque lavado pelo Pai. Jesus Cristo quer lavar sempre todos aqueles que seguem seus passos. Ter os pés lavados pelo Mestre é condição indispensável para o discípulo.
5. Quinta-feira da semana santa é o dia do padre: homem do serviço
O convite de Jesus à prática do lava-pés é para todos. “O mesmo Senhor porém instituiu alguns como ministros entre os fiéis, para que estes se unissem num só corpo, em que ‘todos os membros não desempenham a mesma atividade’ (Rom 12,4). Tais ministros deviam assumir o poder sagrado da Ordem, na comunidade dos fiéis, para oferecerem o Sacrifício e perdoarem os pecados, exercendo ainda publicamente o ofício sacerdotal em favor dos homens e em nome de Cristo”. (Decreto Presbyterorum Ordinis, 1243).
O sacerdote é ordenado para o serviço do povo de Deus. O papa, além de “Santo Padre”, “Sumo Pontífice”, traz entre seus diversos atributivos o de “Servo dos Servos de Deus”, expressão muito cara a João Paulo II que também já foi utilizada por Bento XVI.
Ao descrever o ministério sacerdotal, o Papa João Paulo II, na “Carta aos sacerdotes por ocasião da Quinta-feira santa de 1996”, destaca: “O sacerdote torna-se, assim, participante de tantas decisões da vida, de sofrimentos e alegrias, de esperanças e desilusões. Em cada situação, a sua função é mostrar Deus ao homem, como o fim último de sua existência pessoal. O sacerdote torna-se aquele a quem as pessoas confiam as coisas mais íntimas e os seus segredos, por vezes tão dolorosos. Torna-se o desejado dos enfermos, dos idosos e dos moribundos (…) O sacerdote, testemunha de Cristo, é mensageiro da vocação suprema do homem à vida eterna em Deus. E enquanto acompanha os irmãos, prepara-se a si mesmo: o exercício do ministério permite-lhe aprofundar a sua própria vocação de dar glória a Deus para tomar parte na Vida Eterna”.
Debruçando-se sobre a dimensão sacramental do exercício do sacerdote, percebe-se que ela permeia todas as etapas da vida. Conforme aponta João Paulo II, o padre, e com ele toda a Igreja, participa ativamente da história dos fiéis e de suas famílias, sempre a serviço.
O Batismo, próprio do início da primeira infância, é a porta de entrada para a Vida em Cristo. Na celebração da Eucaristia, torna presente o próprio Cristo, feito Pão para viver com os homens. O sacramento da Reconciliação é o sacramento da volta, do retorno ao Pai, na contínua conversão. Há também o matrimônio, que marca a decisão de dois adultos que se amam e se unem, para formar uma só carne, tendo como testemunha o sacerdote. Na unção dos enfermos, mais uma vez a ação do ministro de Deus oferece conforto e alento ao doente. Percebe-se, então, a presença real e atuante do sacerdote, o homem do serviço nos diversos momentos da existência humana.
O padre não é um “super-homem”, isento de falhas e enganos. Mas deve, sobremaneira, ser uma presença de serviço. Tomar parte da vida do povo e, a partir da motivação divina, ter um coração alargado, solidário, pulsante, capaz de participar nas decisões da vida das pessoas, não com a distância e a imparcialidade de um juiz, mas proximamente, à maneira de um irmão.
O serviço amoroso é fecundo e se expande. Como diz São Tomás de Aquino “O Bem é difusivo”. Oxalá todos os sacerdotes, religiosos ou diocesanos, do campo da cidade, sejam transmissores fiéis e dedicados do Bem Maior, que é Deus.
6. Serviço: atos e atitude
O exemplo do lava-pés caracteriza-se por uma ação pontual e simbólica de Jesus Cristo. Envolve uma série de passos práticos: levantar-se, tirar o manto, cingir-se com a toalha, tomar a jarra com água e a bacia, lavar os pés dos discípulos. Diversos atos em função de uma atitude. Apesar do conjunto (atitude) parecer mais importante do que as partes (atos), eles não sobrevivem isoladamente. Os atos sem atitude tornam-se ações mecânicas, passageiras. A atitude sem atos também não sobrevive, porque se revela estéril. A relação é recíproca.
No caso de Jesus Cristo, cada etapa do gesto era impulsionada pela atitude fundamental de Deus: estar a serviço do homem. O cristão precisa, desta maneira, mergulhado no ensinamento que vem do alto, colocar-se por inteiro nas ações de promoção da vida, e vida em abundância (cf. Jo 10, 10). Para cumprir este propósito, o seguidor de Jesus Cristo tem nas “Obras de Misericórdia” uma lista de atos que apontam para a atitude do serviço e oferecem respostas pontuais ao cenário de desigualdade que se apresenta diante dele:
a) Obras Corporais de Misericórdia
 Dar de comer a quem tem fome – Estima-se que, no Brasil, cerca de 16,2 milhões de pessoas vivem em situação de absoluta miséria, sem ter o que comer.
Dar de beber a quem tem sede – No sertão Nordestino, nas favelas, no entorno das grandes metrópoles, a falta de água potável é um flagelo que castiga milhões de brasileiros.
Vestir os nus – Despidos da dignidade, há uma multidão à espera de se proteger nos trajes do respeito e do reconhecimento enquanto seres humanos.
Dar pousada aos peregrinos – São pessoas sem chão e, consequentemente, sem identidade, que vagam sem perspectivas.
Visitar os enfermos e os encarcerados – Eles não têm possibilidade de locomoção. Nas cadeias, nos hospitais, nas filas do SUS, sofrem pela solidão, pelo abandono, esquecimento.
Remir os cativos – Neste caso são os prisioneiros das drogas, os trabalhadores explorados, as vítimas da ganância e da opressão que clamam por liberdade.
Enterrar os mortos – O respeito ao ser humano ultrapassa as barreiras da vida e da morte e deve ser sempre salvaguardado.
b) Obras Espirituais de Misericórdia
 Dar um bom conselho – Em uma sociedade desacostumada a ouvir, aconselhar com propriedade e prudência torna-se um serviço desafiador e importante.
Instruir os menos esclarecidos – Esclarecer significa clarear, trazer à luz. Não é um gesto de domínio de quem pode mais, mas um exercício de humildade e comprometimento.
Corrigir os que erram - Paciência é a virtude principal desta ação, que deve ser repleta de carinho e interesse pelo próximo.
Consolar os aflitos ­ – Oferecer o ombro amigo àqueles que padecem as dores da angústia e da aflição.
Perdoar as injúrias – O exercício do perdão confere qualidade de vida a quem perdoa e a quem é perdoado. Perdoar deixa a alma limpa, lavada, livre de sentimentos negativos que tornam a vida mais complicada.
Suportar pacientemente as fraquezas do próximo – Quanto mais próximo é o próximo, mais suas fraquezas aparecem. Limites, todos os têm e, diante deles, a compreensão é a melhor aliada.
Rezar pelos vivos e falecidos – A fé é o grande combustível da vida cristã. Rezar pelos outros é lembrar que Deus ama a todos.
Tanto as obras corporais quanto as espirituais remetem para a atitude do serviço. Assumi-las como cristão comprometido significa assumir um projeto de vida no qual se chega a Deus por intermédio dos irmãos. Todo ser humano, sem exceção, é carente e necessita ser contemplado pelas obras de misericórdia, que levam em conta as necessidades básicas de toda e qualquer pessoa.
7. Lava-pés: tema caro a Francisco de Assis
Na qualidade de seguidor fidelíssimo de Cristo, São Francisco de Assis não poderia deixar de lado em seus escritos e em sua vida a lição número um do Mestre. Frequentemente o Poverello recorre, direta ou indiretamente, ao lava-pés para orientar seus frades e imbuí-los do espírito de serviço. O próprio nome da Ordem fundada por Francisco (Ordem dos Frades Menores) traduz a perfeita consonância entre a inspiração do santo e os desígnios divinos.
Muitas são as passagens que corroboram esta profunda sintonia. Entre elas, as instruções que São Francisco dava a seus seguidores com relação à lida com o poder. Este deveria ser sempre, incondicionalmente, o “poder de servir”.
Na história da Ordem Franciscana, o rápido aumento do número de irmãos exigiu a adoção de certos procedimentos para a organização. Houve, desta forma, o surgimento das figuras dos ministros, custódios e guardiães, nomenclatura utilizada até hoje. Cabe ressaltar que São Francisco encarava a noção de poder obrigatoriamente ligada às ideias de serviço e cuidado. Quem exerce um cargo, não deve dele se apropriar, conforme aparece nas Admoestações:
“Não vim para ser servido, mas para servir (cf. Mt 20,28), diz o Senhor. Aqueles que foram constituídos acima dos outros, se gloriem tanto deste ofício de prelado como se tivessem sido destinados para o ofício de lavar os pés dos irmãos. E se mais se perturbam por causa do ofício de prelado que lhes foi tirado que por causa do ofício de lavar os pés, tanto mais ajuntam para si bolsas para perigo da Alma (Adm 4, 1-4)”.
Conforme o trecho, percebe-se que a tônica do exercício do cargo não está atrelada a nenhum privilégio pessoal, mas na obrigação de servir aos irmãos. O desprendimento também é uma exigência. Quem exerce determinada função, não deve se apegar a ela e, caso lhe seja tirado o ofício, isto não deve ser motivo de perturbação.
No mesmo texto das Admoestações, São Francisco adverte seus frades a fim de que não se iludam ou se ensoberbeçam por elogios e aplausos no exercício de suas atividades. “Bem-aventurado o servo que não se considera melhor quando é engrandecido e exaltado pelos homens do que quando é considerado insignificante, simples e desprezado, porque, quanto é o homem diante de Deus, tanto é e não mais. (…) E bem-aventurado o servo que não é colocado no alto por própria vontade e que sempre deseja estar sob os pés dos outros” (Adm 19, 1-3.4)
Considerando-se ínfimo diante do Altíssimo, o frade deve colocar-se por inteiro na dinâmica do serviço e não deve se iludir com as “glórias humanas”. A posição social, neste caso, torna-se secundária e a prioridade passa a ser, a partir do que prescreve São Francisco, a ocupação dos últimos lugares.
A ideia de não apropriação também aparece na Regra não Bulada. “E nenhum ministro ou pregador se aproprie do ministério dos irmãos ou do ofício da pregação, mas, em qualquer hora em que lhe for ordenado, sem qualquer objeção, deixe seu ofício” (RnB 17, 4). Não obstante às recomendações de humildade no exercício dos ofícios e funções dos irmãos indicados para os mesmos, São Francisco exige, de toda a fraternidade, respeito e reverência aos prelados, conforme indica na Regra Bulada. “Todos os irmãos devem ter sempre um dos irmãos desta Religião como ministro geral e servo de toda a fraternidade e estejam firmemente obrigados a obedecer-lhe” (RB 8,2).
Francisco adota, portanto, uma postura de cautela e equilíbrio diante do poder. Sabe que a organização é necessária para qualquer grupo humano, mas previne seus irmãos a fim de que não se deixem escravizar pelas estruturas. Certamente estas instruções brotam de alguém que soube ouvir, compreender e praticar o verdadeiro Espírito do Evangelho, do Lava-pés.
8. Conclusão
Esta reflexão certamente não trouxe grandes novidades. Apenas procurou nas fontes clássicas (Sagrada Escritura, Missal Romano, Documentos do Concílio Vaticano II, Escritos de São Francisco, etc.) indicações que possibilitem um contato mais estreito com a lição de serviço ensinada por Jesus. O objetivo primeiro foi haurir do episódio do lava-pés alguns elementos que auxiliem o seguidor de Cristo em sua vida prática. A expectativa é de que este texto tenha sido um pequeno subsídio de reflexão para melhor vivência dos mistérios da Semana Santa.