Hoje não recordamos um evento da história da salvação, como nas outras grandes solenidades do ano litúrgico. Celebramos um mistério, o mistério cristão por excelência, aquele do qual nasceu toda a história da salvação, aquele pelo qual nossa religião se diferencia em seu centro de todas as outras. O povo hebreu adorava um só Deus, Javé, conhecia somente a unidade de Deus. Os povos pagãos adoravam mais divindades. A religião cristã conhece a unidade na diversidade: um só Deus em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.
Não nos cabe hoje desvendar ou especular o Mistério da Trindade, temos de confessar que por mais esforço que se faça para explicar esta teologia trinitária, ela continua sendo abstrata, de difícil compreensão para todo fiel cristão. Não basta saber coisas sobre Deus e falar Dele. Isto ainda não é fé. Devemos chegar a encontrar-nos e conversar com Deus mediante a nossa oração e o nosso diálogo pessoal. Nós devemos descobrir o que a Trindade é para nós, isto é, para a nossa Salvação, e Ela- a Trindade- é o mistério do amor de Deus que desce no meio de nós, desce ao encontro do homem, adapta-se à sua pequenez, a seus passos de criança, vem viver conosco. Meditando sobre a Trindade, dizia São Josemaria Escrivá: “Deus é o meu Pai, Jesus é meu amigo íntimo, que me ama com toda divina loucura do seu coração. O Espírito Santo é meu consolador, que me guia nos passos de todo o meu caminho. Pensa bem nisso. Tu és de Deus e Deus é teu!”.
A Revelação deste Mistério foi a maior novidade trazida por Jesus, conduziu-nos ao conhecimento de uma comunhão de três pessoas. Deus é amor; e o amor não pode ficar fechado em si mesmo, parado, mas ele se expande, exatamente porque é amor. Deus não é amor somente a partir de alguns milhões de anos, quando após a criação fez o homem e a mulher para amar, Ele é amor desde a eternidade. Deus não teve necessidade do homem para amar alguém, havia Nele mesmo uma trindade. Nós fomos chamados à existência para entrar naquela fornalha de amor. Deus não é um ser solitário e mudo; fechado num eterno silêncio, mas por ser trino é amor e sai de si mesmo para o outro. Ele não vive numa solidão desoladora, mas é fonte de vida que se entrega incessantemente; e fomos criados assim, à imagem da Trindade e a prova mais forte disso é que somente o amor nos torna felizes, porque vivemos em relação e vivemos para amar e ser amados.
Caminhamos, portanto, com as três pessoas divinas, mas muitas vezes caminhamos sem reconhecê-las, como os discípulos de Emaús que caminharam com Jesus sem perceber que era ele. Os santos não são assim; para eles havia um diálogo, uma presença percebida e constante. Santa Teresa tinha a impressão de viver num castelo em companhia constante das três pessoas: o castelo interior. Outra mística se dirige à Trindade chamando-a “os meus Três” e escreve: “Eu encontrei o céu na terra, porque o céu é a Trindade e a Trindade está dentro de mim”. A vida cristã, sem esta âncora interior e sem esta força, é vazia, cansativa, sobretudo transcorre fora do âmbito do amor; com eles ao invés, se transforma num paraíso.
Na sua humildade dócil, a Virgem Maria, fez-se serva do amor divino: acolheu a vontade do Pai e concebeu o Filho por obra do Espírito Santo. Nela o Todo poderoso construiu um templo digno para si, fazendo dela, modelo e imagem da Igreja, mistério e casa de Comunhão para todos nós. Maria, espelho da Santíssima Trindade, nos ajude a crescer na fé no mistério da Trindade. Amém!
Pe. Hebert Guedes
Vigário paroquial
Paróquia Nossa Senhora das Dores - Monteiro, PB
Diocese de Campina Grande
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