sábado, 23 de maio de 2015

Homilia - Pentecostes



Há cinquenta dias passados estávamos a celebrar o Tríduo da Paixão e Morte e Ressurreição do Senhor. O Filho de Deus se entrega nas mãos dos homens e sofre a violência da paixão. Hoje dia de Pentecostes celebramos como que “as consequências da violência que os homens fizeram com o Filho de Deus”. Celebramos a resposta que Deus dá a nossa violência para com Ele. E a forma como Deus responde a nossa maldade e egoísmo é dando-se Ele mesmo a nós e nos concedendo o dom do Espírito Santo. Aqui podemos contemplar como Deus reage ao ódio humano, em um ato de violência Deus nos oferece o seu amor. Deus se “vinga” do homem ensinando-o e capacitando-o para amar.

Por isso, o Espírito Santo é chamado Dom de Deus e o dom de Deus não pode ser outra coisa a não ser o amor. O Espírito Santo se dá como extraordinária experiência de bondade que invade o nosso espírito e o nosso corpo, em uma intensa emoção que vibra em uma suave alegria, em uma harmonia interior que brota do esplendor da beleza de Deus e nos remete ao belo que é o próprio Deus. 

Como consequência deste dom, o cristão tem necessidade de abrir-se ao outro, oferecer-se, o Espírito o torna capaz de ter compaixão sincera e generosa. Se o Pai e o Filho nos doam a sua vida divina pelo Espírito, nossa tarefa é transforma a nossa vida em um dom para Deus e para o próximo, sentindo aquilo que ele sente, colocando-se no seu lugar, entrando no seu coração e nos seus pensamentos e participando diretamente na sua situação, até chegar a assumi-lo com total generosidade, ou melhor, com a generosidade de Deus. Na realidade receber o Espírito Santo é se humanizar. “A medida da santidade é a medida da nossa humanidade”, dizia São João da Cruz.

Os apóstolos estavam de portas fechadas com medo dos judeus. Porta fechada não apenas do espaço físico, mas também do coração. Não sabiam amar, por isso eram medrosos. Somente a força do Espírito Santo transformou homens tímidos em anunciadores do Evangelho. Quantas vezes o medo paralisa a ação evangelizadora: medo do fracasso, de enfrentar o mundo, medo de não conseguir testemunhar a Palavra, das críticas, medo de mostrar as nossas fragilidades, medo de amar, medo de doar-se, medo de se aproximar do outro e mostrar para ele que o mesmo tem um lugar muito especial em nosso coração. No fundo todos estes medos se resumem em um só: medo de sermos humanos. A união com o Espírito nos liberta destes medos.

E como podemos viver esta realidade do Espírito? Através da oração. Ela é a força motriz de toda a vida, de todos os esforços humanos. É a conversação com Deus, é a relação pessoal com Deus, é a união com Deus, é a bússola do coração das virtudes. A oração é a expressão da vida do Espírito Santo em nós, é o respirar do espírito, é o que mede a grandeza da nossa vida espiritual. A Igreja respira com a oração e esta só é autêntica quando nos vem do Espírito Santo. Devemos orar sem cessar até que ó Espírito Santo desça sobre nós e nos torne homens e mulheres da ternura.

Houve quem perguntasse a um Padre do deserto: "Qual a perfeição da oração?" O Padre se pôs de pé, estendeu as mãos para o céu e os seus dedos se tornaram como dez velas acesas, Disse o Padre então: Deves tornar-te todo fogo.

O Espírito é necessário para a edificação da Igreja. É o Espírito Santo que inflama a alma sem cessar e a une a Deus. Princípio ativo por natureza, o Espírito Santo tem uma particular natureza de fogo. No mundo espiritual, esta Força-Fogo derrama sobre as criaturas as chamas da graça que nos faz participar da natureza divina. Flamejando línguas de fogo que vão pousar sobre a fronte dos eleitos, circundando-os de glória, a graça com os seus dons diversas, doados pelo Espírito Santo, doador por excelência. 

O Espírito Santo derrama sobre o cristão os seus carismas e faz da criatura o reflexo vivo do esplendor do Verbo, revestindo-a da glória de Cristo-Deus. O cristão cheio do Espírito Santo é transformado em Jesus Cristo. É a festa trinitária na vida do cristão. É no centro de nossa alma que o Espírito pode operar a nossa transformação e através das nossas mãos e pés direcionados para o outro que mostramos ao mundo que não vivemos segundo a carne e sim segundo o Espírito. Tomemos consciência desta presença.

Pe. Paulo Sérgio Gouveia
Vigário paroquial da catedral diocesana
Diocese de Campina Grande

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