sábado, 29 de março de 2014



IV Domingo da Quaresma - Jo 9,1.6-9.13-17.34-38



Estamos avançando em nossa caminhada quaresmal. A cada domingo nos deparamos com textos da Sagrada Escritura de grande profundidade simbólica. Infelizmente o tempo, por ser curto, não nos ajuda a desvendar toda a riqueza destes textos. Assumamos o compromisso de durante a semana revisitá-los e aprofundá-los em nossa Leitura Orante da Palavra. 

A liturgia deste domingo focaliza o encontro “daquele que nasceu cego” com “aquele que é a Luz”. Somos todos nós. O cego do evangelho simboliza todo o gênero humano. Esta cegueira começou com o pecado do primeiro homem, de quem todos herdamos a origem tanto da morte quanto da iniquidade. Porém, Jesus é a Luz e veio para que o homem participe de sua luz, que nos é dada pelos sacramentos, principalmente o batismo. Santo Agostinho viu simbolizado neste milagre o Sacramento do Batismo, no qual por meio da água, a pessoa fica limpa e recebe a luz da fé. Por isso, São Justino de Roma chamava o batismo de iluminação. 

Por isso, este domingo é apropriado para meditarmos sobre a nossa fé e o nosso batismo. O batismo abre os olhos da alma e nos ajuda a enxergar o mundo a partir da luz do evangelho. Aprendamos com Deus a maneira correta de olhar. Escutamos na primeira leitura que “Deus vê o coração e não as aparências”. Ele não olha a exterioridade e sim o coração de cada homem, penetra nos sentimentos mais ocultos, procurando perceber quais são as nossas verdadeiras intenções. 

Mas, não basta sermos iluminados no batismo. No batismo recebemos a fé como semente que deve crescer e desenvolver-se com a graça de Deus e com a nossa liberdade. É preciso que vivamos como filhos da luz. O que aconteceu na celebração batismal deve se desdobrar em nossas atitudes diárias através da bondade, justiça e verdade. Não podemos nos comportar como filhos das trevas. O cristão iluminado vive na verdade, eis o desafio, pois percebemos que há em nossas vidas regiões tenebrosas, não evangelizadas, não iluminadas pela luz de Cristo e que necessitam serem colocadas diante do Senhor para que Ele as ilumine. 

A fé como luz tem outro sentido, pois, assim como a luz mostra as coisas e nos orienta, também a fé. Sem ela como viver bem neste mundo, como saber distinguir o verdadeiro do falso, como saber lidar com as diversas situações em que nos deparamos todos os dias? 

Que belo exemplo de firmeza na fé nos dá este cego! Sua fé é viva operante. Assim devemos nos comportar quando em muitas circunstâncias nos sentimos cegos, quando nas preocupações da vida se oculta à luz. Que poder tinha a água para curar aquele homem? Será que ele nunca tinha lavado o rosto? Mas, o Senhor pediu e aquele homem acreditou e pôs em prática o que Jesus lhe ordenou e foi iluminado. Façamos o mesmo.

Pe. Paulo Sérgio Araújo Gouveia
Paroquia São Judas Tadeu - Nações
Campina Grande-PB

quinta-feira, 27 de março de 2014

São Francisco e Santa Clara


 João Paulo Barbosa de Lima, OFS - Campina Grande-PB

Francisco jovem rico
que tudo resolveu deixar,
mas não demorou muito
para um tesouro encontrar.

Por uma dama se apaixonara
encontrando nela a beleza,
para a surpresa e espanto de todos
foi  a dama pobreza.

Nas ruas de Assis, ele andava a pregar
com palavras simples
de maneira singular,
ricos e pobres a ele logo ia se juntar.

Rodeada de luxo assim vivia Clara,
deixando tudo sem hesitar,
seguidora de São Francisco
iria se tornar.

Fez uma troca sem protelação,
deixou o conforto de sua casa
para viver recolhida
na capela de São Damião.

Rapidamente outras jovens
a ela veio se juntar,
admiradas com sua coragem
seu modo exemplar.

Francisco amava tudo o que via,
livre e desapegado
como as cotovias.

Paz e bem o lema que deixou
louvava a terra , o vento e tudo
que o Bom Deus criou.

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De paz e humildade
O seu ser, Clara inundou
Considerada por todos
A plantinha que Francisco plantou.

De pobreza e castidade
Clara se ornou,
Imitando Jesus Cristo,
Sua esposa se tornou.

Em defesa de suas filhas
Clara chega ao seu extremo,
Pois com o Santíssimo na mão
Põe pra correr os sarracenos.

Na sua vida de silêncio
Clara buscava Deus
Feliz daquele ou daquela

Que vive como Clara viveu.

sábado, 22 de março de 2014

III Domingo da Quaresma (Jo 4,5-15.19b-26.39a.40-42)



Na primeira leitura deste domingo o povo que estava atormentado pela sede e pela aridez do deserto interpela a Moisés: “Dá-nos água para beber”. Deus os colocou no deserto para provar os seus corações, para que o povo descobrisse que somente Ele é o Senhor, “o único necessário”. Mas, eles haviam esquecido todas as maravilhas que Deus havia feito no deserto e agora reclamavam porque não tinham água. 

Moisés, seguindo as instruções de Deus, bateu no rochedo e dele saiu água. Paulo vai afirmar que este “rochedo era Cristo” (ICor 10,4), isto é, prefigurava Jesus, que um dia haveria de ser a fonte de “água viva” oferecida a toda a humanidade. 

No Evangelho Jesus chega a Samaria, uma cidade sincretista e se encontra com uma mulher a beira de um poço. Esta mulher representa a Samaria, nação pagã, que havia se prostituído com deuses falsos. Havia procurado a plenitude da vida em propostas fáceis e falíveis que podem matar a sede por algum momento, mas que não levam a plenitude da existência. Propostas que longe do Senhor sempre deixa um vazio na alma.

Este evangelho mostra a relação de Deus com o seu povo usando o símbolo do Deus-esposo que procura o povo-esposa-infiel, que abandonando o Deus vivo, vai à procura de falsos deuses, de falsas propostas. Jesus representa o verdadeiro esposo que vai ao encontro de sua esposa infiel. O encontro se dá no poço, o mesmo lugar onde os patriarcas se encontravam com as suas esposas. 

O poço de Jacó representa o Antigo Testamento onde a mulher vai matar a sua sede, mas ao chegar se depara com Jesus “sentado sobre o poço”. Jesus ocupa o lugar do poço, porque ele é o verdadeiro poço de onde jorra a água da vida. Quem mata a sede do homem não é mais a Lei do Antigo Testamento, mas Jesus. 

Podemos celebrar aqui o encontro de Deus com o pecador sedento, do “Amante com o amado”, como dirá São João da Cruz, onde o Deus-Amante oferece o seu amor, isto é, a plenitude da vida, o dom do Espírito Santo, como dirá são Paulo na segunda leitura a sua esposa amada. Para isso, basta um gesto de amor que neste caso é dá um pouco de água a Jesus. Um gesto tão pequeno diante de um dom tão grandioso. Basta somente isso para que o perdão, a misericórdia aconteça “seus pecados foram perdoados porque ela demonstrou muito amor” dirá Jesus à outra pecadora. 

Reconhecendo a grandeza da proposta de Jesus a mulher abandona o cântaro que servia para tirar água, ele não é mais necessário. Não precisa mais do poço de Jacó, agora pode beber na fonte que é Jesus. 

Mas como receber esta água viva? Na primeira leitura Moisés para saciar a sede do povo bateu na rocha e dela saiu água. Já sabemos que esta rocha é figura de Cristo, significa dizer que Cristo nos dará “água viva”, isto é, seu Espírito. No relato da paixão João dirá que “um soldado transpassou o lado de Jesus que saiu água e sangue” simbolizando o batismo e a Eucaristia, e quando estava morrendo “Jesus entregou o Espírito”. Santo Ambrósio dirá que “é da paixão de Cristo que nos vem todos os bens”. É assim que se comporta o amor, ao bater em Jesus acontece a salvação do mundo. Daí segue que, a fonte é Jesus, a água viva é o Espírito Santo e os meios são os sacramentos. Bebamos.

Pe. Paulo Sérgio Araújo Gouveia
Paróquia São Judas Tadeu – Nações
Campina Grande-PB

quinta-feira, 20 de março de 2014


São Francisco e a Eucaristia




Francicarla da Silva Barros Lima, OFS

A compreensão de que através da Eucaristia nos sentimos na presença de Cristo, nos conduz a percebermos quão grande é o Seu amor por nós. Em nossa pequenez, não conseguimos sentir plenamente a presença viva de Jesus em nosso ser através da Eucaristia, mas com os olhos da fé sentimos que Cristo nos permite a graça de estarmos n’Ele e com Ele através da comunhão.

Falar de São Francisco e a Eucaristia nos leva a querer adentrar um pouco mais no grande significado que a Eucaristia deve ter na vida de cada cristão. São Francisco foi considerado o homem eucarístico não porque tinha “devoção” pela Eucaristia mas sim, porque em sua santidade, compreendeu o real sentido da Eucaristia como doação total de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Para abordarmos o tema São Francisco e a Eucaristia, pensamos primeiramente em destacarmos pontos referentes à Eucaristia, tendo por base o Evangelho e o Catecismo da Igreja Católica.

Compreendemos a intimidade perfeita que acontece entre nós quando recebemos Cristo na Eucaristia, quando ouvimos do próprio Jesus que nos diz: “Eu garanto a vocês: se vocês não comem a carne do Filho do homem e não bebem o seu sangue, não terão a vida em vocês. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia.” (Jo 6, 53-54)

Jesus Cristo se deu por inteiro a nós. Ao instituir a Eucaristia, Ele nos dá a certeza de que permanece sempre conosco. Assim nos afirma o Catecismo da Igreja Católica “para deixar-lhes uma garantia deste amor, para nunca afastar-se dos seus e fazê-los participantes de sua Páscoa, instituiu a Eucaristia como memória de sua morte e de sua ressurreição, e ordenou a seus apóstolos que a celebrassem até a sua volta, constituindo-os sacerdotes do Novo Testamento”. (CIC, 1337)

Quando acreditamos verdadeiramente que Cristo está no pequeno pedaço de pão, nos permitimos ser sacrários vivos, assim como Maria. Ao recebermos Cristo na comunhão, devemos confiar que nos unimos a Ele de corpo e alma.

Além disso, devemos compreender ainda que a Eucaristia nos purifica e nos renova, entendendo que “a comunhão separa-nos do pecado. O Corpo de Cristo que recebemos na comunhão é ‘entregue por nós’, e o Sangue que bebemos é ‘derramado por muitos para remissão dos pecados’. Por isso a Eucaristia não pode unir-nos a Cristo sem purificar-nos ao mesmo tempo dos pecados cometidos e preservar-nos dos pecados futuros”. (CIC, 1393)

Compreender a Eucaristia é compreender o Mistério, pois “encontram-se no cerne da celebração da Eucaristia o pão e o vinho, os quais, pela palavra de Cristo e pela invocação do Espírito Santo, se tornam o Corpo e o Sangue de Cristo”. (CIC, 1333)

Como cristãos, não podemos simplificar o significado da Eucaristia no sentido de que a recebemos na missa e ai se encerra. Não. Entender que “a Eucaristia é fonte e ápice de toda vida cristã” (CIC, 1324) nos permite afirmar que a Eucaristia nos fortifica em nossa missão evangelizadora, nos transforma interiormente e nos dá a graça de permanecermos unidos a Jesus não só na missa mas, em toda a vida.

Numa perspectiva franciscana, reflitamos sobre atitude de São Francisco diante do Mistério Eucarístico. Nosso pai seráfico compreendeu radicalmente o amor do Cristo Eucarístico. Ele mesmo nos indica a atitude que devemos ter diante de tão grande Mistério, quando afirma na Carta a toda Ordem (21-22): “Ouvi, irmãos meus: se a bem-aventurada Virgem é tão honrada  - como convém -, porque trouxe em seu santíssimo útero; se o bem-aventurado Batista estremeceu e não ousou tocar a santa cabeça de Deus; se se venera o sepulcro em que ele jazeu por algum tempo, quão santo, justo e digno não deve ser quem traz nas mãos (I Jo 1,1), recebe na boca e no coração e oferece aos outros para receberem aquele que já não mais morrerá, mas há de viver eternamente glorificado, a quem os anjos desejam contemplar (1 Pd1,12)!”

É verdade que São Francisco dirigiu estas palavras aos sacerdotes, mas por que não as dirigir a nós enquanto irmãos e irmãs franciscanos(as)? Ainda na Carta a toda Ordem, São Francisco nos aponta a nossa pequenez diante do Mistério Eucarístico, quando diz: “Pasme o homem todo, estremeça o mundo inteiro, e exulte o céu, quando sobre o altar, nas mãos do sacerdote, está o Cristo, o Filho de Deus vivo (Jo 11,27)! Ó admirável grandeza e estupenda dignidade! Ó sublime humildade! Ó humilde sublimidade: o Senhor do universo, Deus e Filho de Deus, tanto se humilha a ponto de esconder-se , pela nossa salvação, sob a módica forma de pão! Vede, irmãos, a humildade de Deus e derramai diante dele os vossos corações. (Sl 61,9); humilhai-vos também vós, para serdes exaltados (cf. 1 Pd 5,6; Tg 4,10) por ele. Portanto, nada de vós retenhais para vós, a fim de que totalmente vos receba aquele que totalmente se vos oferece”. (CTO 26-29)

São Francisco compreendeu que se Jesus Cristo, que é Deus humilhou-se e doou-se todo inteiro a nós, porque então nós, não devemos fazer do mesmo modo para com o nosso próximo. Doar-se inteiramente ao serviço no Reino de Deus, almejando levar Cristo a todos aqueles que anseiam por palavras e atitudes verdadeiramente cristãs no mundo.
Francicarla da Silva Barros Lima, ofs
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Referências bibliográficas
Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, Paulus, 1990
Catecismo da Igreja Católica, Edições Loyola, 1999
 Fontes Franciscanas e Clarianas, Editora Vozes/ FFB, Petrópolis,RJ, 2008
Para refletirmos:
ü  Como compreendemos a Eucaristia em nossa vida?
ü  Como deve ser a vida eucarística do(a) franciscano(a)?

Núcleo da FFB de Campina Grande promoveu Encontro das Fraternidades



No último domingo 16 de março a FFB núcleo de Campina Grande promoveu o 1º Encontro com as Fraternidades Franciscanas. O evento teve como tema "São Francisco e a Eucaristia" e aconteceu no auditório do Convento de São Francisco no bairro da Conceição

Oração Inicial conduzida pela JUFRA Campina Grande e os noviços da OFM 
Ir. Fernando, João Paulo e Irmã Francicarla - Apresentação do tema

O encontro contou com a presença de diversos irmãos das mais diversas fraternidades da região, sendo eles os irmãos da OFS, JUFRA, Irmãs Franciscanas e a os noviços da Ordem dos Frades Menores.

Café da manhã fraterno

Foi um dia de bastante alegria e espiritualidade, inciando com o café fraterno, oração, reflexão, apresentações de músicas, dinâmicas e partilha.

Frei Sergio Moura, ofm - Celebração da Santa Missa

Agradecemos a presença de todos os irmãos e irmãs que participaram e da OFS e JUFRA Campina Grande pelo apoio neste evento.

Irmãos da OFS Campina Grande




  

sábado, 15 de março de 2014

II Domingo da Quaresma - Mt 17, 1-9



Continuamos com a nossa caminhada quaresmal e neste domingo a Palavra de deus nos mostra o caminho que devemos seguir. Antes de qualquer decisão é preciso escutar. Por isso, a quaresma é o tempo propício para nos abeirarmos da Palavra de Deus, lê-la, meditá-la, rezá-la e colocá-la dentro do nosso coração. Fazer da Palavra uma bússola que orientará toda a nossa existência.
 
Na primeira leitura Deus diz uma palavra para Abraão: Sai... Eis o nosso objetivo neste tempo quaresmal: Sair da nossa rotina, romper com os nossos esquemas por melhores que sejam. Abrir-se para a novidade de Deus. Abraão, um homem já velho, que vivia tranquilo com a sua família, que já não tinha grandes projetos e de repente, Deus entra na sua vida e pede algo totalmente novo, convidando-o a construir uma nova história. A leitura termina dizendo que “Abraão partiu como o Senhor lhe tinha ordenado”. Ele não discute, simplesmente obedece ao Senhor e isso o faz ser uma fonte de benção.

A disponibilidade de Abraão questiona o homem comodista, instalado em seus próprios projetos e que aposta numa falsa segurança longe de Deus. Não tem a coragem de arriscar por Deus. Não consegue se por “a caminho”, por que tem uma bagagem tão grande que não consegue caminhar. Preferi ser prisioneiro de seus velhos esquemas e dos seus  medos.

No Evangelho Jesus diz também uma palavra para Pedro, Tiago e João: “Levantai-vos e não temais”. Os apóstolos subiram a montanha e lá vivenciaram uma experiência grandiosa, com o Senhor se transfigurando diante deles. Viram a glória de Deus. Contemplaram também Moisés e Elias os dois “grandes” do Antigo Testamento. Estavam tão felizes que nem se lembraram dos outros companheiros que estavam na planície. Melhor seria ficar ali mesmo. Jesus os puxa para a realidade. Enquanto eles queriam se acomodar Jesus os convida: levantai-vos. É como se Jesus dissesse: “Agora não é o momento do repouso, há muito que fazer, vocês são três e eu quero subir a montanha com toda a humanidade”. É preciso ir para a planície. Subir a montanha deve ser um momento de parada para servir melhor ao homem que se encontra na planície da vida necessitado do apoio do homem e da mulher de Deus. 

Na nossa vida há também um chamado. Deus tem um projeto para cada um de nós. Paulo dirá que Deus nos chama para a santidade. Eis o nosso ideal que está sempre inacabado, que nos desafia a cada instante. Para sermos santos é preciso primeiro ouvir, depois sair, levantar e não ter medo. Começar a caminhar, descer do pedestal, servir aos outros, abraçar a cruz do sofrimento seu e dos outros que se encontram na planície, sujar as mãos como nos diz o papa Francisco.

Pe. Paulo Sérgio Araújo Gouveia
Paróco – Paróquia São Judas Tadeu
Nações – Campina Grande - Paraíba

sábado, 8 de março de 2014

I Domingo da Quaresma - Mt 4,1-11



Iniciamos este tempo de quaresma pedindo a Deus a graça de conhecer Jesus. Penetrar com mais profundidade a sua vida e entender o porquê de sua escolha e ao mesmo tempo nos preparamos para viver os momentos mais significativos da vida de sua vida. 
Para conhecer Jesus a liturgia nos propõe um olhar sobre nós mesmos, sobre a nossa história.

Na primeira leitura encontramos os nossos primeiros pais, criados por Deus para viverem no paraíso em comunhão com o Senhor, mas instigados pela serpente dizem não ao plano de Deus escutando a proposta do diabo. No evangelho está Jesus no deserto enfrentando as forças do mal, resistindo àquilo que derrotou Adão e dizendo sim ao projeto do Pai. Na segunda leitura, Paulo faz uma reflexão sobre estes dois fatos e afirma que a falta de Adão trouxe morte para a humanidade enquanto que a obediência de Jesus trouxe a graça e a salvação. Um dizendo “não” levou à humanidade a morte e o outro com o seu “sim” a salva. Aqui está todo o dilema da humanidade ou escolher estar com Adão ou estar com Cristo. Qual será a nossa opção? Seremos solidários a Jesus ou a Adão? Na realidade nesta liturgia somos chamados a refletir sobre o dilema de nossas vidas. Sobre a guerra que acontece dentro de nós mesmos, pois o pecado parece um parasita dentro de nós nos destruindo. 

Para viver bem este tempo quaresmal é necessário tomarmos consciência da existência do pecado em nós e no mundo, sem isso não compreenderemos a vida de Jesus. O pecado é retirar Deus de nossas vidas e colocar a nós mesmos como deuses. O pecado é ser dono absoluto de nosso destino, é desobedecer a Deus. Jesus o vence colocando no centro de sua vida seu Pai.

Dentro de nós está a “fome do pecado”, o que a Igreja chama de concupiscência, uma desordem que sempre nos puxa para baixo e que mina a nossa liberdade. Mas, é claro que nos pecamos também porque fazemos como Adão uma opção livre pelo pecado.
Não é só por causa de Adão e sim também por nossa causa. Adão começou uma situação a qual nós nos solidarizamos. Pecando Adão me levou a pecar e eu pecando levo os outros também ao pecado. O pecado não é transmitido apenas pela geração, mas também pelas nossas atitudes e comportamentos. O meu pecado polui o mundo.

Jesus no deserto destrói a raiz do pecado mostrando que nada é mais importante do que o relacionamento com o Pai. Rejeitando o pecado Jesus salva o homem só é verdadeiro homem na medida em que está em comunhão com Deus. 


Meditando sobre a realidade pecaminosa de nossa vida passamos a compreender e a amar mais a Jesus, que ofereceu a sua vida para nos libertar da maldade deste mundo. Neste primeiro domingo da quaresma Jesus já se revela como nosso Salvador e nosso modelo de superação do pecado. Vamos segui-lo.

Pe. Paulo Sérgio Araújo Gouveia
Paroquia São Judas Tadeu - Bairro das Nações
Campina Grande-PB
As Tentações


Chegamos a Quaresma e ouvimos o convite à conversão através da penitência. Não é um tempo para cair na tristeza, ficar acabrunhado, rosto abatido por estar vivendo exercícios penitenciais. Pelo contrário, é motivo de escutar o convite da Igreja que nos provoca a passar pelo “deserto”, no sentido de entrar em profundo silêncio, experimentar um retiro espiritual que possa questionar o nosso coração quanto à vivência do Evangelho. É uma sondagem interior para saber se estamos, ou não, vivendo como seguidores de Jesus. Muitos fazem penitências, mas é bom que sejam bem entendidas, não pode ser um mero cumpridor de ritos externos, mas é preciso ser algo que modifica o coração, quer dizer, não apenas aparecer no exterior, mas sobretudo interferir no interior.
A Igreja está falando de um “tempo favorável” em que muitos rompem com os vícios malditos e prejudiciais a vida, a partir de sérios sacrifícios de penitência. Acontecem muitas transformações para o bem, uns param de ingerir bebidas alcoólicas, refreiam o paladar daquelas comidas mais deliciosas, outros se controlam no falar o que não convém, se contêm em relação à visão de coisas pervertidas, deixam de andar em ambientes que não agregam valores, entre muitas outras mudanças que se coadunam perfeitamente nos tradicionais pilares da Quaresma: Oração, Jejum e Caridade.
Esses exercícios alcançam grande valor se não forem apenas por quarenta dias. Não há razão para se penitenciar tanto se não existir disposição de mudança. Façamos penitência sim, mas em perspectiva de melhorar, de sermos pessoas do bem, gente que antes vivia de forma errada e, após uma avaliação à luz do Evangelho, passou por uma transformação e tornou-se melhor. Então meus caros, vamos ouvir os apelos do Senhor, vivamos intensamente esta Quaresma, aproveitemos esse tempo que nos é concedido, para refletir sobre a importância do Evangelho em nossas vidas.
A Palavra de Deus neste primeiro domingo da Quaresma, nos apresenta a realidade humana envolvida por sua enorme fragilidade e, por isso, sujeita à tentação. No início de tudo, homem e mulher não resistiram as tentações e cederam no Paraíso. Inicia-se o pecado original em Adão e Eva, que trata-se da rejeição do Plano de Deus pela desobediência e presunção arrogante de se sentir igual a Deus, de querer agir como se fosse Deus. Com Jesus não aconteceu assim porque ele resistiu à tentação e foi fiel a Deus. A serpente enganou Adão e Eva dizendo que Deus não os deixou comer o fruto da árvore da vida, para impedir que houvessem adversários. Essa foi a grande mentira. Deus não proíbe com esse intuito mesquinho, mas para que homem e mulher, habitassem a terra vivendo exclusivamente para promoverem a vida.
Eis a grande tentação e o grande pecado das origens, que resultou em nós numa constante inclinação para o pecado. Mesmo tendo sido lavados inteiramente do pecado pelo Batismo, essa tentação está sempre nos rodeando, voltando a nos seduzir. Basta avaliar se os nossos projetos estão sendo pensados com, ou sem, a presença de Deus. Quando estamos longe de Deus, quando queremos Deus distante da nossa vida, quando vivemos mergulhados no nosso egoísmo, pensando somente em nós mesmo, nisto consiste exatamente a mesma tentação de Adão e Eva, achar que não precisamos de Deus. Cuidado! Você que foi batizado, jamais ceda a essa tentação diabólica de ser como o homem velho, tão parecido com Adão e Eva, mas seja como o homem novo que Jesus nos apresentou.
O próprio Jesus enfrentou, repito, sem ceder, graves tentações próprias de um povo que esperava um Messias diferente do que realmente ele era. Esperavam um Messias com poder ao ponto de transformar pedras em pão, um milagreiro espetacular que se preocupasse em trazer benefícios miraculosos e encantadores. Essa expectativa é semelhante a tentação de se viver uma religião unicamente de brilhos atrativos e emoções extraordinárias, sem compromisso com Jesus. Não são poucos os que desejam seguir Jesus por um simples milagre. Jesus nega esse conceito porque não corresponde à sua realidade.
Outra falsa imagem do Messias foi imaginá-lo com o poder capaz de se lançar ao precipício e ser protegido pelos Anjos de Deus. Ora que absurdo! Mas ainda hoje não é diferente, há muitos que agem cedendo a todo tipo de caprichos pessoais e depois culpam Deus por não terem sido salvos na hora marcada. Jesus não concorda com esse tipo de tentação de querer dobrar Deus ao que nós desejamos.
E, por último, o tentador provoca Jesus a apossar-se de todo o poder do mundo, a ser o comandante absoluto de tudo e de todos. O inimigo tentador lhe oferece tudo o que enxergasse de cima do monte. Muito parecido com os arranjos políticos de hoje em dia, não acham? Compra-se aqui e ali o poder de mandar e desmandar. Jesus mais uma vez não cede a essa diabólica tentação e usa a Palavra de Deus para se proteger.
Irmãos amados no Senhor, quanta fidelidade Jesus tem ao Pai, quanta força ele tem para resguardar o Projeto de Deus, como é forte para não deixar sucumbir suas convicções. Que estes exemplos de Jesus nos sirvam para os dias de hoje, onde as tentações continuam existindo, mudaram apenas de nome, mas o sentido é o mesmo e continuam degradando a vida humana. Busquemos na Igreja o apoio evangelizador, que nos encaminhe para o verdadeiro discipulado de Jesus. Nunca cedamos à tentação de viver um falso cristianismo, que se satisfaz na ilusão das multidões emocionadas. Igreja que faz grandes plateias e não consegue formar o mínimo de discípulos e seguidores de Jesus, ou seja, não evangelizam. Recebe aplausos, mas não agradam a Deus. São aquelas falsas evangelizações que pregam unicamente o bem estar, sobretudo econômico, mas no fundo não existe autêntica conversão.
Portanto, longe de nós esse tipo de religião que se preocupa mais em anunciar riquezas do que proteger a vida, esta não é a Igreja de Jesus. A Igreja de Jesus defende a vida. Por isso, o nosso Salvador e Mestre nos convida nesta Quaresma a vencer todas as tentações intensificando uma espiritualidade, que possibilite nos libertar dos prejuízos causados à vida, pelo insano egoísmo de viver somente voltados para o ter, o prazer e o poder. Amém!

Pe. Márcio H. Fernandes
Vigário geral da Diocese de Campina Grande
Disponível em: http://pemarcio.blogspot.com.br/2014/03/as-tentacoes_7024.html?spref=fb

segunda-feira, 3 de março de 2014

Quaresma – Tempo de conversão e arrependimento


Caros Irmãos e Irmãs, iniciamos um novo tempo na Igreja. Tempo de conversão e arrependimento. Deus nos concede a oportunidade de retornar pra junto de sua presença. Isso acontece por que temos um Deus amoroso, paciente e misericordioso.

Este tempo é um momento de muita reflexão, renuncia, jejum e oração. A Igreja nos proporciona um grande retiro durante 40 dias. Não é momento de tristeza, mais de penitência e recolhimento.

E esses requisitos são bastante comuns na vida Franciscana. O nosso pai fundador viveu intensamente sua quaresma cotidiana. Sua vida foi toda de renuncia, de oração, de penitência e de amor e misericórdia para com os pobres e oprimidos de sua época. São Francisco viveu esse momento sem desanimar, sempre alegre e confiante na Piedade Divina.

A Igreja, através da liturgia diária e das celebrações nos convida a retornarmos ao convívio de Deus assim como o filho pródigo o fez. Nesse retorno devemos buscar tornar-se novos homens e novas mulheres, deixando para trás todas as coisas que nos afastam do Senhor. Devemos buscar nos reconciliarmos com Deus e com os irmãos, para que unidos a eles possamos celebrar a Festa da Páscoa do Senhor.

Celebremos irmãos e irmãs o nosso retiro que se inicia na próxima quarta-feira de Cinzas. Peçamos a Deus que nos anime e nos conduza nessa caminhada quaresmal.

Paz e Bem!

Ir. Guilherme Lucena
Iniciando da OFS – Campina Grande/PB
CF 2014 - Fraternidade e Tráfico Humano


sábado, 1 de março de 2014

Homilia do VIII Domingo Comum - Mt 6, 24-34

Neste domingo a liturgia nos revela o cuidado amoroso de Deus para com o seu povo e também para com cada um de nós. Israel em um momento difícil pensa que Deus o abandonou. É completamente absurdo que Deus abandone a criatura que ele criou num ato de amor. Mesmo que uma mãe esqueça seu filho, “eu, porém, de ti não me esquecerei”, dirá o Senhor. A criação, como cada ser humano está na “memória de Deus” e está na memória de Deus, significa ser continuamente abraçado e acolhido por Ele que olha e acompanha os nossos passos como uma mãe amorosa. A mão de Deus está aberta e cada um de nós está dentro dela.

Na Bíblia, todas às vezes que Deus se lembra de alguém é para lhes conceder uma nova libertação, assim foi na vida de Noé, Abraão, Jacó e tantos outros. A lembrança de Deus é sempre libertadora, Ele se lembra de cada um de nós, agindo através da graça, inspirando bons pensamentos, nos educando, repreendendo, mostrando o caminho certo. E Ele jamais pode ser diferente porque a sua lembrança nasce da sua fidelidade e Deus é fiel. A consciência que devemos ter confiança no Senhor nasce da certeza de sua fidelidade, Ele não mente, suas promessas serão cumpridas, o seu projeto de amor para cada um de nós se realizará, porque sabemos que ele encaminha todos os acontecimentos da história para o seu fim, a plenitude do Reino. 

Deus é um pai amoroso que cuida de cada um de nós. Podemos confiar n’Ele, podemos apostar em Deus, pois ele vela sobre este mundo. Por isso, Jesus diz no evangelho: “não vos preocupeis”. Jesus deseja excluir de nossa vida a ânsia angustiada pelas necessidades cotidianas. Não defende uma vida passiva e sim engajada na dinâmica do Reino. Ele propõe, acima de tudo, uma atitude interior de serenidade confiante no trabalho pelo Reino. Não devemos, tomado pelas dificuldades nos abater e sim perseverar.

A preocupação e a angústia nascem de uma vida distante da graça de Deus. O home que vive na intimidade do Senhor sabe muito bem como administrar os bens e o seu tempo, sabe colocar o seu coração não em valores transitórios, mas sim nos perenes. A paz, a vida equilibrada é fruto de uma vida norteada pelos valores do Evangelho. 

O abuso dos recursos que Deus nos deu ou o amor ao dinheiro desequilibra a vida, viver mergulhado nesta sociedade de consumo, querer ter tudo que a propaganda nos oferece cria uma vida perturbada e 
angustiada e daí nasce os roubos, o amor ao dinheiro, o desejo de sempre ter mais mesmo que para isso seja necessário tirar dos outros. O dinheiro é um péssimo senhor, que tiraniza o homem, privando-o da liberdade de servir e amar a Deus e aos irmãos. Por isso, “Não sirvamos ao Deus e ao dinheiro”.

Pe. Paulo Sérgio Araújo Gouveia
Paroquia São Judas Tadeu - Bairro das Nações
Campina Grande-PB