domingo, 31 de maio de 2015
sábado, 30 de maio de 2015
Homilia - Solenidade da Santíssima Trindade
Hoje não recordamos um evento da história da salvação, como nas outras grandes solenidades do ano litúrgico. Celebramos um mistério, o mistério cristão por excelência, aquele do qual nasceu toda a história da salvação, aquele pelo qual nossa religião se diferencia em seu centro de todas as outras. O povo hebreu adorava um só Deus, Javé, conhecia somente a unidade de Deus. Os povos pagãos adoravam mais divindades. A religião cristã conhece a unidade na diversidade: um só Deus em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.
Não nos cabe hoje desvendar ou especular o Mistério da Trindade, temos de confessar que por mais esforço que se faça para explicar esta teologia trinitária, ela continua sendo abstrata, de difícil compreensão para todo fiel cristão. Não basta saber coisas sobre Deus e falar Dele. Isto ainda não é fé. Devemos chegar a encontrar-nos e conversar com Deus mediante a nossa oração e o nosso diálogo pessoal. Nós devemos descobrir o que a Trindade é para nós, isto é, para a nossa Salvação, e Ela- a Trindade- é o mistério do amor de Deus que desce no meio de nós, desce ao encontro do homem, adapta-se à sua pequenez, a seus passos de criança, vem viver conosco. Meditando sobre a Trindade, dizia São Josemaria Escrivá: “Deus é o meu Pai, Jesus é meu amigo íntimo, que me ama com toda divina loucura do seu coração. O Espírito Santo é meu consolador, que me guia nos passos de todo o meu caminho. Pensa bem nisso. Tu és de Deus e Deus é teu!”.
A Revelação deste Mistério foi a maior novidade trazida por Jesus, conduziu-nos ao conhecimento de uma comunhão de três pessoas. Deus é amor; e o amor não pode ficar fechado em si mesmo, parado, mas ele se expande, exatamente porque é amor. Deus não é amor somente a partir de alguns milhões de anos, quando após a criação fez o homem e a mulher para amar, Ele é amor desde a eternidade. Deus não teve necessidade do homem para amar alguém, havia Nele mesmo uma trindade. Nós fomos chamados à existência para entrar naquela fornalha de amor. Deus não é um ser solitário e mudo; fechado num eterno silêncio, mas por ser trino é amor e sai de si mesmo para o outro. Ele não vive numa solidão desoladora, mas é fonte de vida que se entrega incessantemente; e fomos criados assim, à imagem da Trindade e a prova mais forte disso é que somente o amor nos torna felizes, porque vivemos em relação e vivemos para amar e ser amados.
Caminhamos, portanto, com as três pessoas divinas, mas muitas vezes caminhamos sem reconhecê-las, como os discípulos de Emaús que caminharam com Jesus sem perceber que era ele. Os santos não são assim; para eles havia um diálogo, uma presença percebida e constante. Santa Teresa tinha a impressão de viver num castelo em companhia constante das três pessoas: o castelo interior. Outra mística se dirige à Trindade chamando-a “os meus Três” e escreve: “Eu encontrei o céu na terra, porque o céu é a Trindade e a Trindade está dentro de mim”. A vida cristã, sem esta âncora interior e sem esta força, é vazia, cansativa, sobretudo transcorre fora do âmbito do amor; com eles ao invés, se transforma num paraíso.
Na sua humildade dócil, a Virgem Maria, fez-se serva do amor divino: acolheu a vontade do Pai e concebeu o Filho por obra do Espírito Santo. Nela o Todo poderoso construiu um templo digno para si, fazendo dela, modelo e imagem da Igreja, mistério e casa de Comunhão para todos nós. Maria, espelho da Santíssima Trindade, nos ajude a crescer na fé no mistério da Trindade. Amém!
Pe. Hebert Guedes
Vigário paroquial
Paróquia Nossa Senhora das Dores - Monteiro, PB
Diocese de Campina Grande
sábado, 23 de maio de 2015
Homilia - Pentecostes
Há cinquenta dias passados estávamos a celebrar o Tríduo da Paixão e Morte e Ressurreição do Senhor. O Filho de Deus se entrega nas mãos dos homens e sofre a violência da paixão. Hoje dia de Pentecostes celebramos como que “as consequências da violência que os homens fizeram com o Filho de Deus”. Celebramos a resposta que Deus dá a nossa violência para com Ele. E a forma como Deus responde a nossa maldade e egoísmo é dando-se Ele mesmo a nós e nos concedendo o dom do Espírito Santo. Aqui podemos contemplar como Deus reage ao ódio humano, em um ato de violência Deus nos oferece o seu amor. Deus se “vinga” do homem ensinando-o e capacitando-o para amar.
Por isso, o Espírito Santo é chamado Dom de Deus e o dom de Deus não pode ser outra coisa a não ser o amor. O Espírito Santo se dá como extraordinária experiência de bondade que invade o nosso espírito e o nosso corpo, em uma intensa emoção que vibra em uma suave alegria, em uma harmonia interior que brota do esplendor da beleza de Deus e nos remete ao belo que é o próprio Deus.
Como consequência deste dom, o cristão tem necessidade de abrir-se ao outro, oferecer-se, o Espírito o torna capaz de ter compaixão sincera e generosa. Se o Pai e o Filho nos doam a sua vida divina pelo Espírito, nossa tarefa é transforma a nossa vida em um dom para Deus e para o próximo, sentindo aquilo que ele sente, colocando-se no seu lugar, entrando no seu coração e nos seus pensamentos e participando diretamente na sua situação, até chegar a assumi-lo com total generosidade, ou melhor, com a generosidade de Deus. Na realidade receber o Espírito Santo é se humanizar. “A medida da santidade é a medida da nossa humanidade”, dizia São João da Cruz.
Os apóstolos estavam de portas fechadas com medo dos judeus. Porta fechada não apenas do espaço físico, mas também do coração. Não sabiam amar, por isso eram medrosos. Somente a força do Espírito Santo transformou homens tímidos em anunciadores do Evangelho. Quantas vezes o medo paralisa a ação evangelizadora: medo do fracasso, de enfrentar o mundo, medo de não conseguir testemunhar a Palavra, das críticas, medo de mostrar as nossas fragilidades, medo de amar, medo de doar-se, medo de se aproximar do outro e mostrar para ele que o mesmo tem um lugar muito especial em nosso coração. No fundo todos estes medos se resumem em um só: medo de sermos humanos. A união com o Espírito nos liberta destes medos.
E como podemos viver esta realidade do Espírito? Através da oração. Ela é a força motriz de toda a vida, de todos os esforços humanos. É a conversação com Deus, é a relação pessoal com Deus, é a união com Deus, é a bússola do coração das virtudes. A oração é a expressão da vida do Espírito Santo em nós, é o respirar do espírito, é o que mede a grandeza da nossa vida espiritual. A Igreja respira com a oração e esta só é autêntica quando nos vem do Espírito Santo. Devemos orar sem cessar até que ó Espírito Santo desça sobre nós e nos torne homens e mulheres da ternura.
Houve quem perguntasse a um Padre do deserto: "Qual a perfeição da oração?" O Padre se pôs de pé, estendeu as mãos para o céu e os seus dedos se tornaram como dez velas acesas, Disse o Padre então: Deves tornar-te todo fogo.
O Espírito é necessário para a edificação da Igreja. É o Espírito Santo que inflama a alma sem cessar e a une a Deus. Princípio ativo por natureza, o Espírito Santo tem uma particular natureza de fogo. No mundo espiritual, esta Força-Fogo derrama sobre as criaturas as chamas da graça que nos faz participar da natureza divina. Flamejando línguas de fogo que vão pousar sobre a fronte dos eleitos, circundando-os de glória, a graça com os seus dons diversas, doados pelo Espírito Santo, doador por excelência.
O Espírito Santo derrama sobre o cristão os seus carismas e faz da criatura o reflexo vivo do esplendor do Verbo, revestindo-a da glória de Cristo-Deus. O cristão cheio do Espírito Santo é transformado em Jesus Cristo. É a festa trinitária na vida do cristão. É no centro de nossa alma que o Espírito pode operar a nossa transformação e através das nossas mãos e pés direcionados para o outro que mostramos ao mundo que não vivemos segundo a carne e sim segundo o Espírito. Tomemos consciência desta presença.
Pe. Paulo Sérgio Gouveia
Vigário paroquial da catedral diocesana
Diocese de Campina Grande
sábado, 16 de maio de 2015
Homilia da Ascensão do Senhor (17/05/15)
Hoje Cristo diante dos seus discípulos sobe ao céu. É a sua entrada triunfal na glória depois das humilhações da paixão. É à volta para a casa do Pai, agora não somente com a sua divindade, mas também conduzindo a sua humanidade glorificada. Os evangelistas narram o acontecimento com muita sobriedade, mas mesmo assim ressaltam o poder e a glória de Cristo.
Não podemos conceber a ascensão de Cristo como “a sua subida para um espaço no alto”. É preciso perceber o seu significa mais profundo: A ascensão de Cristo significa que através de Cristo a humanidade foi introduzida com Ele no céu. O céu não é um espaço geográfico, mas uma nova dimensão, significando que o homem tem lugar “em Deus”. Isto se tornou possível devido à união da humanidade com a divindade na Pessoa Divina do Filho de Deus, Jesus Cristo, que agora é elevado a gloria do céu. Marcos ao narrar o batismo de Jesus afirmou que o céu se rasgou. A entrada do Filho de Deus no mundo rasgou o céu e este nunca mais será costurado. Permanecerá aberto para que o homem tenha em Cristo acesso ao Pai. Porém, quem é Cristo? “O Caminho, a Verdade e a Vida”, disse Ele. Então Cristo é o Caminho que nos leva para o Céu e o Céu é a Verdade e a Vida, que é o mesmo Cristo. “Entrar” no céu é viver na plenitude da Verdade e da Vida que só poderemos viver depois da nossa viagem deste mundo, por que aqui temos apenas um vislumbre do que seja a Verdade e a Vida. Viver no Céu é viver em Cristo, Verdade e Vida.
Assim, Cristo exaltado se torna o céu, pois este não é um lugar mais uma pessoa: Jesus Cristo, no qual Deus e o homem estão unidos de modo inseparável. Vamos para o céu e até penetramos no céu na medida em que vamos para Jesus Cristo e até penetramos nele. No final da oração eucarística dizemos “Por Cristo, com Cristo e em Cristo”. E São Paulo afirma na Carta aos Colossenses que “tudo foi criado por Ele, nele e para Ele”. O Céu é viver Nele, é entrar na dimensão Dele.
Compreendemos por que os apóstolos estão alegres, pois a ascensão para eles não significava uma despedida, uma ausência de Cristo no mundo, pelo contrário com a ascensão inaugurava-se uma nova presença de Cristo no mundo. Santo Agostinho afirmava: “O Senhor Jesus Cristo não deixou o céu quando veio ate nós; também não se afastou de nós quando subiu novamente ao céu, por isso, ele continua sofrendo na terra através das tribulações que nós os seus membros enfrentamos”.
Celebrar a ascensão de Cristo é expressar alegria e esperança. A esperança de que Deus tem um espaço para o homem e de que nele já somos vitoriosos. Mais uma vez Santo Agostinho afirma que: “Devemos trabalhar aqui na terra de tal modo que, pela fé, esperança e caridade já descansemos com ele no céu. Cristo está no céu, mas também está conosco e nós permanecendo na terra, estamos também com ele. Por sua divindade, por seu poder e por seu amor ele está conosco, nós podemos realizar a nossa união com ele pelo amor que temos para com ele”.
É certo que já não é a mesma presença, não é mais uma presença segundo a carne, mas segundo o Espírito. Este novo modo de presença é até preferível à primeira. Na sua nova condição Cristo pode se tornar presente em cada homem, ele se tornou o nosso contemporâneo que caminha conosco.
Cristo desceu do céu para que nós subamos com ele. Meditando neste mistério de Jesus tomemos consciência de que a nossa pátria é o céu e de que o céu é estar com a Trindade.
Pe. Paulo Sérgio Gouveia
Vigário paroquial da catedral diocesana
Diocese de Campina Grande
domingo, 3 de maio de 2015
Homilia do V Domingo da Páscoa
A liturgia deste domingo nos mostra o itinerário da vida cristã: conversão, inserção no mistério de Cristo, permanência neste mistério e progresso na vida de caridade.
Na primeira leitura escutamos a chegada de Saulo em Jerusalém depois de sua conversão no caminho de Damasco. Todos tem medo daquele que, iluminado por uma graça extraordinária, de perseguidor feroz que era do cristianismo se torna missionário do evangelho. A conversão exige um longo trabalho de superação dos vícios e pecados, para mudar de mentalidade e de comportamento. A conversão não é um mero episodio, mas algo que empenha por toda a vida e não é uma conversão somente a Deus, mas também a Igreja. O acolhimento da comunidade se torna sinal do acolhimento de Deus na vida da pessoa que se converte.
Uma vez convertido, o batismo enxerta o homem em Cristo para que viva a sua vida. A vida do seguidor de Jesus não é mais uma vida somente natural, mas uma vida divina. Participa da vida de Deus, está em comunhão com Jesus não somente pela doutrina ou pela vontade, mas de uma maneira intima e profunda. Podemos afirmar de uma maneira ontológica, isto é, a união com Cristo implica o mais íntimo do ser da pessoa. No batismo acontece de forma sacramental, mas é preciso que se torne existencial e daí a necessidade de permanecer em Jesus, está com ele, conviver com ele, fazer dele o tudo da nossa vida.
À medida que nós permanecemos unidos a Cristo, Cristo permanece em nós comunicando-nos a sua vida divina. Assim o cristão produzirá abundantes frutos de santidade, isto é, de caridade. Não somos capazes de obter nada na vida sobrenatural se não estivermos em comunhão com Cristo. O cristão jamais deve se deixar arrastar pelo medo ou desconfiança, os meios que não tem em si para trilhar o caminho da santidade encontra-os em Jesus. Ele usa estes meios, tribulações, provações, alegrias, tristezas para nos podar, nos limpar para que possamos dar mais frutos. Para nos fazer crescer. Como já dizia Santa Terezinha “o teu amor me fez crescer”. Como doe quando o Senhor nos poda, mas depois que riquezas de crescimento na união com Deus. Só assim conseguiremos dar frutos de vida eterna.
Cabe ao cristão viver a sua vida nesta total adesão a Cristo pela fidelidade pessoal como afirma a expressão “permanecei em mim”. A melhor maneira de permanecermos em Cristo é que as suas palavras permaneçam através da fé que nos ajudará a aceitá-las e do amor que as fará por em pratica.
Na segunda leitura nos é lembrado uma das palavras do Senhor de fundamental importância: “amai-vos uns aos outros”. O exercício da caridade fraterna é o sinal que distingue os cristãos precisamente por que testemunha a sua comunhão vital com Cristo. Na verdade é impossível viver em comunhão com Cristo, cuja vida é essencialmente amor, sem viver no amor e produzir frutos de amor. São João insiste vigorosamente na prática do amor.
Pe. Paulo Sérgio Araújo
Vigário da Catedral diocesana
Diocese de Campina Grande
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