domingo, 18 de janeiro de 2015

Homilia do II Domingo do Tempo Comum (Jo 1,35-42)



No evangelho de hoje encontramos Jesus e os seus primeiros discípulos. Eram discípulos de João Batista, mas depois que este revelou que Jesus era o Cordeiro de Deus, eles resolveram segui-lo. João aponta Jesus como o Cordeiro de Deus, e como Cordeiro de Deus o Mestre atrai os seus primeiros seguidores. No livro do Apocalipse vamos encontrar “uma grande multidão que segue o Cordeiro para onde ele for”. 

Mas o que significa ser Cordeiro? Voltemos ao Antigo Testamento, mais precisamente no livro do Gênesis capitulo vinte e dois. Ali se descreve o sacrifício que Abraão faz do seu filho Isaac. O menino leva a lenha, o pai a faca e o fogo, no caminho Isaac pergunta: “Onde está o Cordeiro para o sacrifício, meu pai?” Abraão respondeu: “Deus providenciara, meu filho”. A pergunta de Isaac é respondida dezoito séculos depois por João Batista: o Cordeiro para o sacrifício é Jesus e não Isaac. 

Seguir Jesus, eis o nosso desafio, segui-lo como Cordeiro, isto é, segui-lo na simplicidade e no sacrifício da cruz eis a nossa grandeza. Seguir Jesus é permanecer com Ele, é estar com Ele, é participar da sua vida. Todos nós pelo batismo nos tornamos seguidores de Jesus, mas este seguimento precisa ser aprendido no cotidiano. Vejamos o exemplo de Samuel: ele morava no Templo, mas ainda não conhecia o Senhor, a Palavra de Deus não se lhe tinha manifestado. Exemplo de muitos de nós que mesmo sendo templos de Deus pelo batismo ainda não temos uma convivência com o Senhor, não nos sentimos seus discípulos. 

O inicio do discipulado é a escuta da Palavra: “Fala Senhor que teu servo escuta”. Tudo começa pela Palavra, pelo questionamento que o Senhor nos faz. Porém, só seremos discípulos de verdade quando a exemplo de Samuel “não deixarmos cair nenhuma Palavra de Deus”. Acolher seus ensinamentos e tê-lo como nosso Mestre. 

Seguir Jesus em última instância é fazer o que ele fez “Meu alimento é fazer a vontade do Pai”. E dizer que o nosso alimento é fazer a vontade de Deus é perceber que cada intervenção de Deus em nossa vida será o nosso alimento apropriado. Muitas vezes a vontade divina nos parece rude, embaraçante, incompreensível. Projetos caídos por terra, dificuldades a todo o momento: por que intervém Deus desta maneira? É o mistério da conduta providencial de Deus e nestes momentos como é difícil aceitar estas realidades. É a forma com que Jesus faz discípulos.

Na carta aos Hebreus encontramos “é para a vossa correção que sofreis”. É a pedagogia de Deus, ele nos ensina corrigindo. Mas o discípulo de Jesus com a intuição da fé percebe que estas contrariedades não passam de uma manifestação amorosa de Deus. Esta vontade divina que se manifestou neste acontecimento, nesta contrariedade, que feriu o nosso coração, Deus em sua sabedoria considerou que isto era necessário para o nosso adiantamento, o nosso crescimento como discípulos. 

Tomemos como exemplo Santo Inácio, bispo de Antioquia, preso, condenado é enviado de Antioquia para Roma para ser comido pelas feras e nesta situação o santo percebe o dedo de Deus, a pedagogia divina. Depois de oitenta e quatro anos servindo ao Senhor, Inácio diz que “somente agora começo a ser discípulo”. Na convivência com as feras é que eu entendi o que significa seguir o Cordeiro de Deus. Se o Cordeiro foi imolado, o discípulo também o será. O verdadeiro discípulo se torna testemunha. 

Mas por que, mesmo diante disso tudo, seguir Jesus? Jesus é o Verbo eterno, é a Palavra do Pai sobre a terra, é a ciência e a sabedoria. Em Jesus vai nos dizer São Paulo “estão todos os tesouros da ciência e da sabedoria”. Aconteça o que acontecer nada é mais vantajoso para o homem do que seguir Jesus e permanecer com ele. E em Jesus o homem encontra tanta felicidade que não se contendo transmite a verdade para os outros.

Pe. Paulo Sérgio Gouveia
Vigário paroquial da catedral diocesana
Diocese de Campina Grande

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