sábado, 22 de novembro de 2014

Homilia Solenidade de Cristo Rei



Estamos no único domingo do ano litúrgico e neste dia a Igreja nos apresenta Jesus como Rei do Universo. Na realidade esta solenidade é como que uma síntese de todas as celebrações da liturgia, pois todas as vezes que nos reunimos para celebrar a eucaristia estamos celebrando o Cristo, o Senhor ressuscitado que vencendo a morte assumiu o poder a direita do Pai. 

Jesus é rei e durante o ano litúrgico o Espírito Santo nos revela este rei. Iniciamos com o tempo do advento onde aspiramos pela chegada do rei e de repente o rei nos surpreende: olhou para a pequenez de Maria, virgem de Nazaré, e a escolheu para que fosse a sua mãe. O lugar do seu nascimento foi em uma manjedoura. O Rei não encontrou lugar para nascer. Primeiro paradoxo. O Rei não foi acolhido pelos seus súditos. Nasceu pobre, revelou-se aos pobres, optou pela periferia da história, nenhum grande deste mundo conheceu o seu nascimento. 

Viveu no meio dos pobres e foi pobre, trabalhou com os pobres e escolheu os pobres para estar com Ele, para serem seus discípulos e revelar os seus mistérios. Fazendo isso foi rejeitado pelos grandes deste mundo e morreu em uma cruz. Seu trono é uma cruz, sua coroa são os espinhos. Mas nós, que acreditamos nele, na noite de páscoa em meio à escuridão proclamamos que Ele é o alfa e o ômega, o Senhor da história, aquele que recebeu todo o poder e que tem o livro dos acontecimentos da história em suas mãos. O livro do Apocalipse nos apresenta o rei na figura de um cordeiro que tem sob seu poder o universo e assim proclamamos que Jesus é o Senhor dos acontecimentos.

Contemplando as leituras de hoje lemos na primeira leitura que o Rei do Universo é um pastor que toma conta das suas ovelhas, que cuida de cada uma, que resgata as que foram dispersas e apascentando-as as faz repousar. Segundo paradoxo. O Rei não é aquele que dar ordens, mas é aquele que serve: que procura a ovelha perdida, que reconduz a extraviada, que enfaixa a da perna quebrada. O Rei mesmo diz que não veio para ser servido e sim para servir. E que é assim, servindo, que Paulo vai dizer que ele venceu todo o poder do mal, inclusive a morte, e pode entregar o reino a seu Pai. Aqui podemos lembrar outra palavra: “vence o mal praticando o bem”. Verdadeiramente para vencer o mal ele se fez cordeiro, para vencer o grande ele se fez pequeno, para vencer o orgulho ele se fez humilde. Aprendamos esta lição. São João Crisóstomo dizia: “se formos cordeiros vencemos, se formos lobos perdemos”.

No evangelho não temos mais a figura do pastor e sim a figura do rei que está sentado em seu trono e vai julgar todos os homens. Mas qual é o critério do julgamento? A caridade, o serviço prestado aos irmãos, aos pobres. Incrível, o Rei não exige nada para si, não exige o serviço prestado a Ele como critério de “avaliação”. O Rei deixou neste mundo pessoas que o “representam” e os seus discípulos devem servi-lo na figura destes representantes. Mas quem são eles? Os pobres. Terceiro paradoxo: serve-se ao rei na pessoa dos pobres. Aqui está o difícil, descobrir a pessoa de Cristo na pessoa do pobre. Aqui caem por terra cargos, títulos, rendas, intelectualismos, belas liturgias que encantam os olhos e aliena o coração. 

Estamos preparados para esta missão? Para descobrir Cristo nos pobres? No discurso talvez que sim, na prática nem sempre. Somos ótimos nos debates e pobres na ação. Por exemplo, quantos encontros para refletir sobre a “pastoral urbana”. Há pessoas na Igreja que são peritos no assunto, mas quando os pobres que estão nas periferias precisam dos seus serviços não tem tempo, está estudando a bendita “pastoral urbana”. Às vezes, nós os padres, chegamos ao absurdo de pedir ao bispo um vigário paroquial para que este sirva aos pobres, enquanto nós ficamos com os “ricos”, o “coitado” é quem deve ir para os becos e favelas enquanto o “rei” fica na matriz. Que engano, que absurdo que cegueira: “entre nós está e não o conhecemos, entre nós está e nós o desprezamos”. 

Quantas surpresas nos aguarda o julgamento. Mas, será que nós acreditamos que um dia seremos julgados? Já dizia São João da Cruz: “Ao entardecer de nossas vidas seremos julgados pelo amor que praticamos”. Ah que pena! Enquanto isso eu estava tão preocupado com cargos, títulos, rendas, intelectualismos, belas liturgias que encantam os olhos e aliena o coração. Mas Senhor eu fiz tudo isso pensando em você, para engrandecer a tua glória. “Afastai-vos de mim vós que praticais a iniquidade”

Pe. Paulo Sérgio Gouveia
Vigário da Catedral diocesana
Diocese de Campina Grande

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