sábado, 29 de novembro de 2014

Homilia I Domingo do Advento (Mc 13,33-37)



Estamos iniciando um novo ano litúrgico, mais uma vez o Senhor nos deu a oportunidade de meditarmos sobre os mistérios da vida de Jesus e fazer destes mistérios os nossos mistérios. Tudo o que celebramos neste ano que terminou foi com o objetivo de, ajudados pela graça do Espírito Santo, deixar que Cristo fosse formado em nós. Em cada liturgia assumimos a vida de Jesus como a nossa vida e assim, um pouco por vez, nos tornamos cristãos. 


Neste domingo iniciamos o tempo do advento e a liturgia da Palavra põe em nossos lábios uma oração do profeta Isaías: “Ah! Se rompesses os céus e descesses! As montanhas se derreteriam diante de ti”. Logo depois o profeta confirma: “Descestes, pois, e as montanhas se derreteram diante de ti”.

Podemos dizer que neste versículo está toda a espiritualidade do advento e do Natal. Por enquanto contemplemos a do advento: Ah! Se rompesses os céus e descesses! As montanhas se derreteriam diante de ti”. Desde que os nossos primeiros pais perderam a familiaridade com Deus, por causa do pecado, e foram expulsos do paraíso, Deus começou a procurar o homem, mas também o homem, iluminado pela graça de Deus, sentiu desejo de Deus e saudade do Paraíso. Em todas as culturas e civilizações e principalmente no povo de Israel havia o suspiro pela vinda de Deus. Podemos afirmar que esta oração é a síntese de toda a oração do Antigo Testamento.

O homem aspira por Deus, o deseja e o Senhor que colocou este desejo no coração do homem o atrai para si. Mas também é preciso rezar e se preparar para que o Senhor quando vier não nos encontre dormindo É isso o que a Igreja quer nos incutir neste tempo do advento. Por isso, na oração inicial deste domingo rezamos que o Senhor conceda aos fiéis o ardente desejo de possuir o reino celeste. 
Possuir o reino celeste é possuir Jesus, é recebê-lo em nosso coração, é deixar que ele nasça em nossa vida. Assim como o Espírito Santo formou Jesus no ventre de Maria, assim também quer Ele formar Jesus em nós. Por que nada é mais importante do que ter Jesus. São Paulo na segunda leitura afirma que “nele fomos enriquecidos em tudo, em toda a palavra e em todo o conhecimento...”. Ah se verdadeiramente descobríssemos neste advento que Jesus é toda a riqueza de nossa vida, é a plenitude de todos os nossos desejos e a realização de nossas vidas.

A vinda de Jesus é maravilhosa, mas não esqueçamos que uma vez ele nascendo em nossa vida, às montanhas se derretem, isto é, as montanhas do nosso orgulho e da nossa prepotência. Fazer com que estas montanhas se derretam não é algo fácil, é uma terapia dolorosa, derrubar as barreiras dos nossos pecados para é algo desconcertante, perturbador. Não esqueçamos que Jesus vem com a paz, ele que é o príncipe da paz, mas com a paz que nasce da cruz, da renúncia, da quebra do nosso comodismo. 

Mas ele vem por nós e para nós, deixemos que ele quebre as nossas montanhas, apare as nossas arestas. Que maravilha será no final percebermos que nenhum outro Deus fez tanto pelos que nele confiam. Vem Senhor Jesus.

Pe. Paulo Sérgio Gouveia
Vigário paroquial - Catedral diocesana
Diocese de Campina Grande

sábado, 22 de novembro de 2014

Homilia Solenidade de Cristo Rei



Estamos no único domingo do ano litúrgico e neste dia a Igreja nos apresenta Jesus como Rei do Universo. Na realidade esta solenidade é como que uma síntese de todas as celebrações da liturgia, pois todas as vezes que nos reunimos para celebrar a eucaristia estamos celebrando o Cristo, o Senhor ressuscitado que vencendo a morte assumiu o poder a direita do Pai. 

Jesus é rei e durante o ano litúrgico o Espírito Santo nos revela este rei. Iniciamos com o tempo do advento onde aspiramos pela chegada do rei e de repente o rei nos surpreende: olhou para a pequenez de Maria, virgem de Nazaré, e a escolheu para que fosse a sua mãe. O lugar do seu nascimento foi em uma manjedoura. O Rei não encontrou lugar para nascer. Primeiro paradoxo. O Rei não foi acolhido pelos seus súditos. Nasceu pobre, revelou-se aos pobres, optou pela periferia da história, nenhum grande deste mundo conheceu o seu nascimento. 

Viveu no meio dos pobres e foi pobre, trabalhou com os pobres e escolheu os pobres para estar com Ele, para serem seus discípulos e revelar os seus mistérios. Fazendo isso foi rejeitado pelos grandes deste mundo e morreu em uma cruz. Seu trono é uma cruz, sua coroa são os espinhos. Mas nós, que acreditamos nele, na noite de páscoa em meio à escuridão proclamamos que Ele é o alfa e o ômega, o Senhor da história, aquele que recebeu todo o poder e que tem o livro dos acontecimentos da história em suas mãos. O livro do Apocalipse nos apresenta o rei na figura de um cordeiro que tem sob seu poder o universo e assim proclamamos que Jesus é o Senhor dos acontecimentos.

Contemplando as leituras de hoje lemos na primeira leitura que o Rei do Universo é um pastor que toma conta das suas ovelhas, que cuida de cada uma, que resgata as que foram dispersas e apascentando-as as faz repousar. Segundo paradoxo. O Rei não é aquele que dar ordens, mas é aquele que serve: que procura a ovelha perdida, que reconduz a extraviada, que enfaixa a da perna quebrada. O Rei mesmo diz que não veio para ser servido e sim para servir. E que é assim, servindo, que Paulo vai dizer que ele venceu todo o poder do mal, inclusive a morte, e pode entregar o reino a seu Pai. Aqui podemos lembrar outra palavra: “vence o mal praticando o bem”. Verdadeiramente para vencer o mal ele se fez cordeiro, para vencer o grande ele se fez pequeno, para vencer o orgulho ele se fez humilde. Aprendamos esta lição. São João Crisóstomo dizia: “se formos cordeiros vencemos, se formos lobos perdemos”.

No evangelho não temos mais a figura do pastor e sim a figura do rei que está sentado em seu trono e vai julgar todos os homens. Mas qual é o critério do julgamento? A caridade, o serviço prestado aos irmãos, aos pobres. Incrível, o Rei não exige nada para si, não exige o serviço prestado a Ele como critério de “avaliação”. O Rei deixou neste mundo pessoas que o “representam” e os seus discípulos devem servi-lo na figura destes representantes. Mas quem são eles? Os pobres. Terceiro paradoxo: serve-se ao rei na pessoa dos pobres. Aqui está o difícil, descobrir a pessoa de Cristo na pessoa do pobre. Aqui caem por terra cargos, títulos, rendas, intelectualismos, belas liturgias que encantam os olhos e aliena o coração. 

Estamos preparados para esta missão? Para descobrir Cristo nos pobres? No discurso talvez que sim, na prática nem sempre. Somos ótimos nos debates e pobres na ação. Por exemplo, quantos encontros para refletir sobre a “pastoral urbana”. Há pessoas na Igreja que são peritos no assunto, mas quando os pobres que estão nas periferias precisam dos seus serviços não tem tempo, está estudando a bendita “pastoral urbana”. Às vezes, nós os padres, chegamos ao absurdo de pedir ao bispo um vigário paroquial para que este sirva aos pobres, enquanto nós ficamos com os “ricos”, o “coitado” é quem deve ir para os becos e favelas enquanto o “rei” fica na matriz. Que engano, que absurdo que cegueira: “entre nós está e não o conhecemos, entre nós está e nós o desprezamos”. 

Quantas surpresas nos aguarda o julgamento. Mas, será que nós acreditamos que um dia seremos julgados? Já dizia São João da Cruz: “Ao entardecer de nossas vidas seremos julgados pelo amor que praticamos”. Ah que pena! Enquanto isso eu estava tão preocupado com cargos, títulos, rendas, intelectualismos, belas liturgias que encantam os olhos e aliena o coração. Mas Senhor eu fiz tudo isso pensando em você, para engrandecer a tua glória. “Afastai-vos de mim vós que praticais a iniquidade”

Pe. Paulo Sérgio Gouveia
Vigário da Catedral diocesana
Diocese de Campina Grande

domingo, 16 de novembro de 2014

OFS e Jufra de Campina Grande celebra a memória decSanta Isabel da Hungria


Os irmãos da OFS e jufristas da fraternidade de Campina Grande celebraram hoje, 16, a memória de Santa Isabel da Hungria, padroeira da OFS. O momento foi realizado com orações, cânticos, leitura e partilha da Palavra de Deus.


Santa Isabel da Hungria foi a segunda filha do Rei André II da Hungria e de sua esposa Gertrudes de Andechs- Meran e nasceu no verão de 1207, no Castelo de Bratislava ou Saros-Patak. Em seu sangue fluía a nobreza das mais poderosas casas reais da Europa. Do lado materno, era sobrinha de Santa Edwiges e tia das santas Cunegunda (Kinga) e Margarida da Hungria e tia-avó de Santa Isabel de Portugal e, do lado paterno, prima de Santa Inês de Praga (da Boêmia).
O nascimento de Isabel foi maravilhosamente anunciado por Klingsohr da Transilvânia, um trovador medieval, no distante Reino da Turíngia. Numa noite de festa, profetizou ao então Landgrave Hermano com as seguintes palavras: "Vejo uma estrela que se levanta da Hungria, que brilhará aqui nesta terra e depois no mundo inteiro. Pois hoje nasceu na Hungria uma menina que será santa. Ela será esposa de seu filho quando crescer, e será famosa no mundo inteiro."
Encantado com as palavras proféticas que ouvira, O Landgrave Hermann I enviou uma comitiva a Hungria e foi acertado com o Rei André II o casamento de Isabel com seu filho mais velho, o infante Hermann. Diz a tradição que a menina, com apenas quatro anos, despediu-se da Hungria e foi levada à Turíngia num berço de prata, acompanhada de uma grande escolta, para ser educada ao lado do futuro esposo. No entanto, quis o destino que o Príncipe Hermann falecesse e em seu lugar, Isabel foi prometida em casamento ao Príncipe Ludwig von Hesse, segundo filho do Landgrave Hermann I e da Duquesa Sofia da Bavária. O certo é que Ludwig e Isabel viveram um amor intenso, belo e verdadeiro desde o primeiro momento.
O Landgrave Hermann Iera soberano de um dos feudos mais ricos do Sacro Império Romano-Germânico. O noivado foi realizado no Castelo de Wartburg, em Eisenach, capital do Ducado da Turíngia, quando Isabel tinha apenas 4 anos e Ludwig, 11. Anos depois, em 1217, morreu o Landgrave Hermann I e Ludwig assumiu a coroa, quando se casou com Isabel em meio à grandes festas. Juntos, viveram um matrimônio exemplar, abençoado com três filhos. Isso, no entanto, fez atrair sobre Isabel os ciúmes de sua sogra, a duquesa Sofia e demais parentes do esposo, principalmente seus cunhados, os príncipes Henrique Raspe e Konrad e a princesa Agnes.
Como governante, Ludwig se mostrou sábio, forte, corajoso e justo. E Isabel partilhava com o marido suas intenções de zelarem pelo bem estar e felicidade de seu povo, baseados em fortes princípios cristãos. A religiosidade alemã foi fortemente influenciada pela espiritualidade franciscana, cuja ordem surgiu naquela época. Admirada dos exemplos de Francisco e Clara de Assis, a princípio Isabel quis viver uma pobreza voluntária total, no que foi desaconselhada pelo seu diretor espiritual, Conrado de Marburgo, que a aconselhou a viver as virtudes do seu estado.
Sua doçura e abnegação, fortemente enlaçadas por um grande amor a Deus e aos pobres foram causa de um intenso apostolado missionário junto aos sofridos e por isso mesmo suas práticas de caridade foram objeto das bênçãos divinas, que provou a virtude se sua serva com admiráveis milagres e prodígios. Embora o povo a amasse e a considerasse uma santa, o mesmo não nutriam por ela os parentes de seu amado esposo e demais nobres da corte. A Duquesa Sofia, sua cunhada Inês e os cunhados Henrique e Konrad sempre a perseguiram e tentaram indispô-la contra Ludwig, o que a jovem Duquesa sempre perdoou e ocultou ao marido. Em várias ocasiões armaram situações para que Ludwig por ela se antipatizasse e a rejeitasse, como era comum ocorrer com muitos reis levianos da época. Mas o amor, o carinho e a admiração que Ludwig sentia por Isabel era maior que tudo. Certamente o mais famoso milagre narrado a seu respeito foi o chamado Milagre das Rosas. Dela conta-se que certa vez, quando levava pães para os pobres nas dobras de seu manto, encontrou-se com seu marido, que voltava da caça. Ludwig estranhou a conduta da esposa, que parecia esconder algo, talvez insuflado pela astúcia de seu irmão Henrique ou da própria mãe, Sofia. O diálogo entre os dois ficou famoso nos anais das lendas de santos. "O que tu levas no avental Isabel?" Ao que a jovem princesa respondeu, trêmula: "São rosas,meu senhor!" Espantado por vê-la curvada ao peso de sua carga, ele abriu o manto que ela apertava contra o corpo e nada mais achou do que belas rosas frescas e orvalhadas, embora fosse inverno e não fosse época de flores. Note-se que da sua sobrinha, Santa Isabel de Aragão, Rainha de Portugal, se conta uma lenda muito idêntica, o Milagre das Rosas.
Em outra situação, avisado pelos nobres da corte de que a esposa havia acolhido um leproso sobre o próprio leito, Ludwig correu para lá enojado, achando que a esposa havia enlouquecido, mas os olhos de sua alma se abriram e ele contemplou uma imagem de Cristo Crucificado.
De uma outra feita, sabendo que chegariam alguns nobres da Hungria, enviados pelo Rei André para visitarem-nos, Ludwig mandou preparar uma grande festa para recepcioná-los. Isabel havia passado o dia inteiro cuidando dos pobres e não estava vestida decentemente, o que foi o bastante para receber as críticas daqueles que a perseguiam. Ludwig, preocupado em proteger a esposa daqueles que a perseguiam, pediu que ela se preparasse convenientemente para o banquete segundo a sua condição de rainha, ainda mais diante dos emissários de seu pai. Contudo, Isabel prometeu ao marido que se apresentaria em todo o esplendor de sua humildade. E qual não foi a surpresa e o deslumbramento de todos quando ela se apresentou na sala do trono diante do marido, da corte e dos visitantes bela e esplendorosa num vestido de brocados, trajando um suntuoso manto de veludo orlado de ouro e pérolas. Assim Deus vestira a sua serva diante a solicitação do fiel Ludwig.
Ludwig apoiava e auxiliava a amada esposa em suas grandes obras de caridade e chegava até mesmo a passar horas da noite ajoelhado ao seu lado, segurando-lhe as mãos enquanto ela rezava. Porém, tamanha prodigalidade para com os pobres apoaida pelo próprio Rei continuava a irritar os seus cunhados, os príncipes Henrique e Konrad da Turíngia, embora a Duquesa Sofia tivesse reduzido ou até cessado a perseguição a nora, em virtude sos milagres que havia presenciado.
A caminho para as cruzadas, acompanhando o imperador Frederico II] de quem muito admirava, Ludwig faleceu de peste em Otranto, o que causou enorme dor em Santa Isabel, que recebera a notícia da morte em outubro, após o nascimento da terceira filha, Gertrudes. Ao saber da morte do esposo, Isabel desesperou-se e saiu gritando enlouquecida pelo castelo, dizendo em prantos: "O mundo morreu para mim, e com ele, tudo quanto era alegria". Durante oito dias choraram a morte de Ludwig.
Esta dor, entretanto, foi ainda acrescida de maiores agruras, quando seus cunhados, livres do temor que nutriam pelo irmão mais velho, expulsaram Isabel do castelo com seus filhos, em pleno inverno, sem dinheiro e sem mantimentos. O seu cunhado Henrique Raspe usurpou a coroa e expulsou Isabel e as três criancinhas, acompanhadas das fiéis Jutta e Isentrude e proibiu a quem quer que fosse ajudá-los, sob pena de castigo. O povo que antes idolatrava a jovem duquesa agora se viu obrigado a lhe fechar as portas por medo do novo Landgrave.
Isabel teria ficado em situação complicada se não fosse resgatada mais tarde por sua tia Matilda, Abadessa do Convento Cisterciense]] de Ktizingen. Seu tio Otto, que era Bispo de Bamberg tentou convencê-la a se casar novamente com outro príncipe europeu, mas Isabel não quis. Foi então que tomou a decisão mais difícil de sua vida: preferiu confiar a seus parentes a educação dos três filhos - Hermano, Sofia e Gertrudes - e quis tomar o hábito da Ordem Terceira de São Francisco, junto de suas duas fiéis damas de companhia Jutta e Isentrude.
Algum tempo depois, entretanto, os cavaleiros que tinham acompanhado o Duque da Turíngia à cruzada voltaram, trazendo seu corpo. Corajosamente enfrentaram os Príncipes, irmãos do duque falecido e exprobaram-lhes a crueldade praticada contra a viúva de seu próprio irmão e contra seus sobrinhos. Os príncipes não resistiram às palavras dos cavaleiros e pediram perdão a Santa Isabel e a restauraram em seus bens e propriedades. Também o Papa havia forçado Henrique a devolver a coroa e a fortuna a cunhada, sob pena de excomunhão. Orientada por Mestre Conrado, aceitou a fortuna para poder utilizá-la em favor dos pobres. No entanto, entregou o pequeno Hermano para ser educado pela avó no Castelo de Wartburg a fim de se tornar o futuro Landgrave da Turíngia. Quanto a Sofia, entregou-a aos cuidados da tia para ser educada no convento e ela mais tarde se tornou a Duquesa de Brabant. A pequenina Gertrudes foi entregue às monjas do Mosteiro de Altemberg e ali cresceu, tornando-se religiosa mais tarde.
Henrique ficou como Regente de ducado durante a menoridade do sobrinho mais velho, o novo Duque soberano, porém Isabel preferiu viver na pobreza absoluta, o que muito desejava, retirou-se primeiro para Eisenach, depois para o Castelo de Pottenstein e, finalmente para uma modesta residência em Marburgo.Ali fundou um hospital com parte da herança do marido e se pôs a viver numa humilde choupana, de onde saía para atender os pobres, mendigos e doentes que acolhia amorosamente. A capela do Hospital de Marburgo foi dedicada em honra a São Francisco de Assis.
Mestre Conrado de Marburgo a orientou numa vida de renúncia, impondo-lhe uma rígida e sufocante disciplina. Expulsou de perto dela as duas fiéis amigas Jutta e Isentrude e colocou em sua companhia duas mulheres de vida dissoluta que a agrediam e caluniavam. Mestre Conrado chegou até mesmo a dar-lhe tapas no rosto. Depois de tantos sofrimentos que ela suportou com admirável resignação, a jovem duquesa foi salva por seu antigo protetor e padrinho, o Conde Bertoldo de Saros-Patak, que em companhia de vários outros cavaleiros e nobres amigos fiéis a ela e ao seu falecido marido, obrigaram Mestre Conrado a abrandar o rigor de sua direção espiritual, o que ele fez por medo. Então restituiu Isentrude e Jutta à companhia da Duquesa e a alegria voltou ao seu coração.
Nesta época de sua vida, a santidade de Isabel manifestou-se de forma extraordinária e seu nome tornou-se famoso em todas as montanhas da Alemanha. Dizia-se que São João Batista vinha lhe trazer pessoalmente a comunhão e que inúmeras vezes ela foi visitada pelo próprio Jesus Cristo e pela Virgem Maria, que a consolavam em seus sofrimentos. Uma de suas amigas depôs no processo de canonização que surpreendeu várias vezes a santa elevada no ar a mais de um metro do chão, enquanto contemplava o Santíssimo Sacramento absorta em êxtase contemplativo. Perguntada certa vez sobre que fim queria dar à herança que lhe pertencia disse: "Minha herança é Jesus Cristo!"
Dias antes de sua morte, Nossa Senhora apareceu-lhe cercada de anjos e prometeu-lhe o céu, visão esta que causou profunda alegria ao coração de Isabel. Faleceu docemente na noite do dia 19 de novembro de1231, com apenas 24 anos. Foi sepultada com grandes honras e seu túmulo foi e ainda é palco de inúmeros milagres realizados por sua intercessão. Foi canonizada pelo Papa Gregório IX em 1235. Também seu marido Ludwig e sua filha Gertrudes foram elevados à honra dos altares e honrados como santos.
Dela disse o Cardeal Ratzinger, na altura arcebispo de Munique, actual Papa Bento XVI: O que fez foi realmente viver com os pobres. Desempenhava pessoalmente os serviços mais elementares do cuidado com os doentes: lavava-os, ajudava-os precisamente nas suas necessidades mais básicas, vestia-os, tecia-lhes roupas, compartilhava a sua vida e o seu destino e, nos últimos anos, teve de sustentar-se apenas com o trabalho das suas próprias mãos.(…)
Deus era real para ela. Aceitou-o como realidade e por isso lhe dedicava uma parte do seu tempo, permitia que Ele e sua presença lhe custassem alguma coisa. E como tinha descoberto realmente a Deus, e Cristo não era para ela uma figura distante, mas o Senhor e o Irmão da sua vida, encontrou a partir de Deus o ser humano, imagem de Deus. Essa é também a razão por que quis e pôde levar aos homens a justiça e o amor divinos. Só quem encontra a Deus pode também ser autenticamente humano. (Da homilia na igreja de Santa Isabel da Hungria de Munique, em 2 de dezembro de 1981).
Por ocasião do VII Centenário do seu nascimento (20 de novembro de 2007) a Cidade do Vaticano fez uma emissão extraordinária de selo comemorativo do evento com 300.000 séries completas, com 10 selos por folha, no valor de €0,65 (65 cêntimos de Euro) por selo.
É padroeira da Ordem Franciscana Secular.
Sua festa litúrgica é celebrada dia 17 de Novembro.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil elege novo Ministro Provincial


Frei Beto Breis foi eleito provincial, na tarde desta quarta-feira (12/11/2014). Frei Beto Breis nasceu em São Francisco do Sul-SC. Inicialmente ingressou na Ordem dos Frades Menores pela Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil (Sul/Sudeste). Recebeu os votos religiosos em 1987, em Rodeio-SC. Quando era adolescente morou um certo período no nordeste, pois seu pai (que era bancário) foi transferido de Santa Catarina para Pernambuco. Após concluir o primeiro ano de filosofia, em 1988, no Convento São Boaventura, em Rondinha (Campo Largo-PR), decidiu retornar ao nordeste, cultivando o imenso desejo de ser frade franciscano junto àquela realidade. Por isso pediu para ser incorporado à Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil. Ali concluiu seus estudos acadêmicos e foi ordenado sacerdote em 20 de agosto de 1994, em Fortaleza-CE, por Dom Aloísio Lorscheider, ofm.

domingo, 9 de novembro de 2014

Homilia - Festa de São João de Latrão

A festa que hoje celebramos se reveste de duas conotações: é festa do dia em que foi consagrada a primeira igreja construída para o culto cristão, quando foi concedida liberdade religiosa, no século IV; e, a festa da igreja de Deus que somos todos nós templos espirituais onde Deus habita. A liturgia, por tanto, está centrada no simbolismo do Edifício Eclesial.
A profecia de Ezequiel mostra que o Templo é lugar sagrado, como que uma fonte de onde brota uma água viva. E esta, por onde passa, faz a vida acontecer. Da igreja, lugar de Deus e onde buscamos um aconchego de paz, brota a água viva da força que precisamos para bem viver.
Em Deus, cuja presença abarca o mundo inteiro, encontramos refúgio e vigor, ajuda e alegria.
Quando o Verbo divino se fez carne, armou sua tenda entre nós. E nos tornamos sua Igreja, da qual ele é o alicerce, o fundador, o fundamento. É o que nos lembra São Paulo na 2ª leitura. Nossas igrejas de pedra ou tijolos são um sinal da presença de Cristo e nós, santuário de Deus.
Jesus Cristo é o verdadeiro Templo onde Deus habita e é encontrado. É ele que será destruído pela morte na Cruz, mas reerguido pelo poder de Deus, com sua gloriosa ressurreição.
Nosso Senhor Jesus Cristo fala em sua Igreja, dá-se em alimento, preside a comunidade reunida em oração, e permanece conosco para sempre
Frei Sérgio Moura Rodrigues, ofm



domingo, 2 de novembro de 2014

Memória dos Fiéis Defuntos



O dia de finados está impregnado de um sentimento religioso no qual se unem afeto e as recordações familiares, com a fé e esperança cristãs; das pessoas falecidas, que amávamos quando vivas. Nós cristãos, devemos acreditar que nossos mortos vivem num sentido bem mais verdadeiro e pleno: vivem em Deus. Se vamos visitar seus túmulos não é só para despertar uma recordação, reviver o momento doloroso da separação, mas para estabelecer, através deste sinal, um contato real com eles, para aprender com eles algo sobre a grande viagem que também nós, devemos fazer. O Cristianismo não celebra o culto à morte, mas à vida. Assim o ressalta a Liturgia da palavra de hoje. Tudo nos fala de Ressurreição e vida, e a referência onipresente é a Ressurreição de Cristo, da qual participa o cristão pela fé.

Podemos perceber que Deus na sua infinita bondade nos criou para a eternidade, Cristo morreu e Ressuscitou para nos dar esta imortalidade que o Senhor deixou impresso em nossos corações. Vida sem limite de tempo é o mais profundo desejo que trazemos dentro de nós. Como no fim a morte sempre nos vence, sentimo-nos intimamente frustrados se não tivermos uma explicação satisfatória para este paradoxo e dificuldade que é a morte de um ser criado para a Vida. 

A coisa mais importante que podemos fazer enquanto estamos reunidos para ouvir a Palavra de Deus não é, portanto, falar dos mortos, mas falar da morte. Diante dela somos radicalmente iguais, todos indefesos, como crianças que na escuridão da noite, sozinhas na grande cama dos pais, medrosas se apertam entre si. A morte é uma experiência que temos sempre diante dos olhos; mas nenhum de nós o conhece pessoalmente. Não obstante, experimentamos a morte dos outros: familiares, amigos e companheiros. Em cada adeus, algo nosso morre também com eles. Porém não vamos falar desta morte. Falaremos do outro rosto dela: daquele que somente a Palavra de Deus pode nos revelar. O rosto da morte que perdeu seu aguilhão e que foi engolida pela vitória, que não ameaça mais, nossa destruição total. Pela morte de um só, o mundo foi salvo. Cristo, se quisesse, poderia não ter morrido. Com efeito, sua morte é vida para todos nós. Somos marcados com sua morte ao rezar em cada missa: anunciamos Senhor a vossa morte. Sua morte é vitória, é sinal do amor de Deus por nós.

A morte é também um Batismo: “Há um batismo com o qual devo ser batizado...”, diz Jesus referindo-se a sua morte. A morte é um despojar-se desta veste de miséria de nosso corpo, é um mergulho na terra, para ressuscitar um dia com uma veste nova que é o corpo glorioso da Ressurreição. Uma veste nova, e, contudo, idêntica à primeira! Porque ressuscitará a carne, a mesma carne. Nós queremos ser felizes com a nossa carne e não a desprezando, isto é, como aconteceu com Cristo em sua Ressurreição, assim acontecerá com aqueles que são de Cristo: “Ele transformará o nosso corpo mortal á imagem de seu corpo glorioso”. 

A Ressurreição, portanto: todo e qualquer pensamento nosso vai hoje acabar irresistivelmente aqui. Sem a Ressurreição de Cristo nossa fé seria vã e nós não poderíamos fazer outra coisa diante da morte do que afligir-se como os outros que não têm esperança. Bendizemos a Deus pela fé, porque graças a Cristo ressuscitado, não somos seres para a morte, para sermos triturados pela terra e pelos bichos; mas somos para a Vida com o Senhor, desde agora e pelo futuro. Hoje é dia de avivar alegremente nossa esperança cristã e proclamar com firmeza nossa fé, quando dizemos: “Creio na ressurreição da carne, dos mortos, na vida eterna”. Amém.

Pe. Hebert
Diocese de Campina Grande

Solenidade de Todos os Santos



Hoje a liturgia da Igreja peregrina se une a liturgia da Igreja celeste para celebrar Jesus Cristo como Senhor e fonte de toda a santidade. Na primeira leitura escutamos que há uma multidão imensa de gente de todas as raças que estão diante do Cordeiro trajando vestes brancas e trazem palmas nas mãos. Estas vestes brancas são símbolos do nosso batismo, pois a fonte da santidade está na vivencia do batismo. O cristão que assume o seu batismo com coerência caminha rumo à santidade. 

A santidade não se alcança sem lutas e dificuldades. A multidão que João contempla são os que vieram da grande tribulação. Os santos alcançaram a glória através das tribulações, pois todo o batizado está associado à paixão de Cristo para poderem um dia participar da sua glória. Trazendo palmas nas mãos que são símbolos da vitória.

A Igreja não se cansa de repetir que somos chamados à santidade, o Concilio Vaticano II afirma: “Todos na Igreja quer pertençam a hierarquia quer pertençam aos leigos são chamados a santidade”. Jesus, mestre e modelo de toda a perfeição, pregou a santidade de vida, de que Ele é o autor e consumador, a todos os seus discípulos. 

Mas o que é a santidade? A santidade cristã não está baseada em uma vida moralmente perfeita e sim em uma comunhão amorosa com Deus, em viver a vida de Deus em nós. 

A santidade consiste, própria e exclusivamente, na conformidade com o querer de Deus, manifestada no cumprimento dos deveres do próprio estado. O esposo se santifica como esposo, a esposa como esposa, o jovem como jovem, o padre como padre. A santidade não consiste em fazer coisas extraordinárias, mas no cumprimento do dever. A santidade acontece quando nos abrimos à ação poderosa do Espírito Santo que recebemos nos sacramentos do batismo, confirmação e também na Eucaristia. 

Esta santidade que esta enraizada no batismo deriva da nossa filiação divina. O Pai nos concedeu um grande presente o de sermos chamados filhos de Deus. E João afirma que verdadeiramente o somos. Porém, não se trata de um titulo, nem de uma metáfora ou uma mera adoção humana: a filiação divina é uma característica fundamental da vida do cristão, uma grande realidade na qual o homem é introduzido na intimidade divina e nos torna familiares de Deus. Não estamos destinados a uma felicidade qualquer, porque somos chamados a comunhão divina, a conhecer e a amar a Deus Pai, a Deus Filho e a Deus Espírito Santo. 

Jesus não veio para suprimir o sofrimento, mas torná-lo um meio de salvação e de bem aventurança eterna. A pobreza, as aflições, as injustiças vividos com os olhos fixos em Cristo podem ser para o cristão um meio de purificação e renovação espiritual. O itinerário das bem aventuranças foi percorrido pelo próprio Jesus que quis tomar sobre si as misérias e sofrimentos da humanidade. 

Quem são os santos? São os bem-aventurados, os felizes desta terra. Quem pode ser santo? Todos. Como ser santo? Basta unir-se a Deus através dos sacramentos, da oração e duma luta contínua para dar viver a vontade de Deus. Qual é a finalidade de uma pessoa santa? Unir-se ao Santo dos santos e arrastar livremente muitas outras pessoas que lutaram para alcançar a santidade, a felicidade, a plenitude da vida.

Pe. Paulo Sérgio
Vigário paroquial da catedral diocesana
Diocese de Campina Grande