domingo, 21 de dezembro de 2014

Homilia IV Domingo do Advento



Estamos no quarto domingo do advento e neste domingo a Igreja nos convida a contemplar Maria. No evangelho de hoje o anjo vem ao encontro de Maria e diz: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor é contigo”. Detenhamo-nos nestas palavras, reflitamos sobre elas. Não é uma saudação normal. Orígenes comentando este texto diz: “O anjo saudou Maria com uma fórmula nova que não se encontra em nenhum lugar da Bíblia. Eu não recordo ter lido esta frase em nenhum outro lugar da Escritura. Nunca esta formula foi dirigida a um homem. Somente a Maria o anjo saúda assim”. Em Maria acontece a irrupção da graça. O nome de Maria é cheia de graça. 

Maria encontrou graça, isto é, favor junto de Deus; ela é cheia do favor divino. Como as águas preenchem o mar, assim a graça preenche a alma de Maria. Que é a graça que acharam aos olhos de Deus Moisés, os patriarcas ou os profetas em comparação com aquela que achou Maria? Com quem Deus esteve mais do que “com ela”? Nela Deus esteve presente não somente pelo poder e pela providência, mas também pela presença pessoal. Deus doou a Maria não somente o seu favor, mas deu-se totalmente a ela no seu próprio Filho. O Senhor está contigo! Que eleição tinha uma finalidade mais sublime que a de Maria, que dizia respeito à encarnação do Filho de Deus? 

Maria é cheia de graça por que toda é toda bela, toda graciosa. Esta graça, que consiste na santidade de Maria, tem também uma característica que a coloca acima da graça de qualquer outra pessoa, seja do Antigo ou do Novo Testamento. É uma graça incomtaminada. A Igreja expressa isso a chamando de “imaculada” em Maria está presente todas as virtudes. 

Estas palavras projetam uma luz especial sobre toda a pessoa de Maria. Dela podemos dizer com razão: Que tinha feito Maria para merecer o privilegio de dar ao Verbo a sua humanidade? Que tinha acreditado, pedido, esperado ou sofrido Maria, para entrar no mundo imaculada? Podemos afirmar com Santo Agostinho: “Procura aqui o mérito, procura a justiça, procura tudo o que quiseres, e vê se achas nela, desde o começo, algo senão graça?” Maria pode fazer sua a palavra do apóstolo e dizer: “Pela graça de Deus sou o que sou” (I Cor 15,10).

Na graça reside a completa explicação de Maria, a sua grandeza e a sua beleza. Porém, não esqueçamos que esta graça da qual Maria foi cumulada é também uma graça de Cristo. É a graça de Deus concedida em Jesus Cristo (ICor 1,4). Maria está aquém e não além da grande linha divisória; Ela não é banhada pelas águas que descem do Sinai e sim das que descem do calvário. A sua graça é graça da nova aliança. 

Em Maria podemos contemplar a novidade de Deus trazida pelo Novo Testamento. “Que novidade trouxe o Filho de Deus vindo ao mundo?”, pergunta-se Santo Irineu, e ele responde “Trouxe toda a novidade, trazendo a si mesmo”. A graça de Deus já não consiste em um dom de Deus, mas no dom dele mesmo; já não consiste em um ou outro favor, mas na sua presença. 

Mas por que tanta ação de Deus em Maria? Por que a Palavra coeterna com o Pai, sem principio, sem dividir-se desceu do alto por um ato de misericórdia e se fez carne em Maria. O Senhor anúncio para Davi que lhe prepararia uma casa e esta casa é Maria. 

Por isso, podemos dizer que Maria é a Teófora, isto é, a portadora de Deus. “Que maravilha! Deus entre os homens, o Infinito em um útero, o Eterno no tempo. E o mais extraordinário é que a concepção se dá sem a participação do homem, a humilhação é inefável. Oh Grande mistério! Deus se abaixa, se encarna e se faz uma criatura”. Dirá João, o Monge. E onde Deus faz isso? Na sua pequena serva. 

Por isso, digamos: Alegra-te Maria, princesa virgem! Alegra-te toda pura! Alegra-te receptáculo divino! Alegra-te candeeiro de Luz, restauração de Adão, resgate de Eva, monte santo, santuário bendito quarto nupcial de imortalidade. Alegra-te oficina onde se deu a união da natureza divina com a humana!

Pe. Paulo Sérgio Gouveia
Vigário da Catedral Diocesena
Diocese de Campina Grande

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