quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Homilia da Solenidade de Maria Mãe de Deus - Lc 2, 16-21



Na noite de Natal ficamos admirados com a presença de uma criança deitada em uma manjedoura e que os anjos nos disseram que era “um Salvador que é o Cristo, o Senhor”. Esta criança é uma criança, mas ao mesmo tempo é o Kyrios (Senhor), isto significa dizer que Ela é Deus. Oito dias depois a Igreja se volta para aquela da qual nasceu esta criança-Deus. A Igreja contempla Maria. Ora se este menino é uma pessoa divina, então Maria é Mãe de Deus, por que Maria o gerou e o concebeu. Não que Maria tenha dado a divindade a Jesus, mas uma mulher dá a luz a uma pessoa e esta pessoa é divina. Maria é Mãe de Deus por que o seu Filho, Jesus Cristo, é verdadeiro Deus. Mas, sendo verdadeiro Deus ele é também verdadeiro homem. 

Por si só este titulo de Mãe de Deus é suficiente para fundamentar toda a grandeza de Maria. Fazendo Maria sua mãe Deus a honrou tanto que ninguém pode honrá-la mais do que o próprio Deus. Como dizia Lutero: “Chamando-a Mãe de Deus, foi-lhe dada toda a honra; ninguém pode dizer dela, ou a ela, algo de mais sublime, ainda que tivesse tantas línguas quanto às folhas da rela, as estrelas do céu e a areia da praia. Também o nosso coração deve refletir sobre o que significa Mãe de Deus”. 

Para nos salvar o Filho de Deus assume em tudo a natureza humana com exceção do pecado. Mas esta natureza humana assumida, Ele a assume de Maria, tudo que é humano em Jesus procede de Maria. Ele que devia ser em tudo semelhante a nós assumiu um corpo semelhante ao nosso. Por isso, que Maria é a cheia de graça, a plena de graça. Sendo assim ela não transmite para seu Filho o pecado e sim a graça. Ela torna-se para Jesus, por um desígnio do Pai na força do Espírito Santo, o canal da própria graça. 

Diz Santo Atanásio: “Por isso que neste mistério Maria está presente: foi dela que o Verbo assumiu, como próprio, aquele corpo que deveria oferecer por nós. O anjo Gabriel com prudência e sabedoria, já o havia anunciado a Maria, o anjo não disse: “aquele que nascer em ti”, para não se julgar que o corpo de Cristo nada tivesse a haver com o corpo de Maria, mas o anjo afirmou: “aquele que nascer de ti” para se acreditar que o fruto dessa concepção procedia realmente de Maria”. 

Santo Hipólito afirmava: “Sabemos que o Verbo assumiu um corpo no seio da Virgem e transformou o homem velho em uma nova criatura. Sabemos que ele se fez homem da nossa mesma substância. Se não fosse assim, em vão nos teria mandando imitá-lo como mestre. De fato, se esse homem tivesse sido formado de outra substância, como poderia ordenar-me que fizesse as mesmas coisas que ele fez, a mim, frágil que sou por natureza? Como poderíamos então dizer que ele é bom e justo?”.

Dizer que Maria é a Mãe de Deus significa afirmar a humildade de Deus que quis ter uma mãe. Através de uma mãe Deus “entra” na matéria, por que o termo “mater” vem da palavra matéria que significa concretude e realidade. O Deus que toma carne no ventre da matéria (mater-mãe) é o mesmo que depois se torna presente na matéria da Eucaristia. 

Maria, serva e Mãe, Virgem, céu, única ponte entre Deus e o homem, extraordinário tear onde Deus teceu a túnica da união da natureza divina com a humana, da qual o Espírito Santo é o único tecelão. Maria é o novo jardim do Éden onde o Filho de Deus pode passear. Por ela os querubins e a espada de fogo que guardava as portas do paraíso e impediam que o homem entrasse foram retirados e toda a humanidade pode gozar da intimidade com Deus. 

Eis as grandiosas consequências para a nossa salvação. Uma criatura se torna Mãe de Deus. A partir de Maria toda a humanidade está redimida. Agora poderemos nos tornar participantes da natureza divina. Quem vai realizar isso? Jesus através do Espírito, o meio foi Maria.

Pe. Paulo Sérgio Gouveia
Vigário da catedral diocesana
Diocese de Campina Grande-PB

sábado, 27 de dezembro de 2014

Solenidade da Sagrada Família


O primeiro domingo após o Natal é dedicado à Sagrada Família. Em primeiro plano está hoje a lembrança e a veneração à família de Nazaré. A história da Sagrada Família é ocasião para uma reflexão sobre a família em geral, feita à luz da Palavra de Deus.
A primeira leitura fixa a atenção sobre o respeito e a honra que devem caracterizar as relações entre os membros de uma mesma família, sobretudo entre pais e filhos. Trata-se, praticamente, de um comentário ao quarto mandamento. E, mais, há aquela veemente exortação a respeitar o ancião, que é, sem dúvida, uma das atitudes que precisam ser repetidas com mais insistência nesta nossa sociedade: Meu filho ajuda a velhice de teu pai, não o desgostes durante a sua vida. Se seu espírito desfalecer, sê indulgente, não o desprezes porque te sentes forte. Como poderíamos prosseguir com mais conselhos para refletirmos e seguirmos.
Hoje se fala que a família é sustentada pela compreensão, o diálogo, o respeito, mas também pelo amor, este é o mais importante. No lar de Nazaré verificamos este ideal de convivência: misericórdia, bondade, doçura, perdão, humildade e amor. O amor é a necessidade máxima do ser humano. A vida é essencialmente, amor, tanto em sua origem, como em seu desenvolvimento e finalidade. Quando morre o amor, nada mais é possível, está perdida a família e o lar, não é senão um hotel, um dormitório e uma prisão para todos: para o pai e a mãe que pensam no divórcio ou no aborto como uma libertação, e para os filhos que fogem de casa ou sem, emancipam prematuramente.
Quando não existe amor, não se solucionam as dificuldades inevitáveis que surgem em todos os matrimônios e famílias, as diferenças entre marido e esposa, entre pais e filhos. Porque o amor é a fonte, a vida e a alma de toda estrutura familiar, pois onde reina o amor, Deus aí está. Só salvaremos nossa família pelo amor uns pelos outros. Quando entre marido e esposa há amor, e se cresce continuamente nele; a lei do divórcio pouco tem valor. Quando no diálogo com os filhos há amor, não é preciso se recorrer, ao princípio de autoridade, que é a última instância. Quando os filhos veem em seus pais, amor mútuo, plena honradez e sinceridade e entre eles mesmos e a respeito deles, compreendem que podem contar com verdadeiros amigos e companheiros que lhes querem bem, os amam desinteressadamente e respeitam sua pessoa.
Acredito que é possível atualmente que dois jovens se conheçam e percebam que se querem bem, um bem especial, diferente de qualquer outro sentimento, até então experimentado. É possível que seu amor amadureça até tomar posse de todo o seu ser e transformá-los. É possível que cheguem assim um dia, diante do altar para pedir a Deus, com a confiança de filhos, que consagre o seu amor. O real segredo é não perder nunca o contato e não se separar da raiz da qual nasceu a família: o amor.
A Igreja é a família dos filhos de Deus que se reúne em cada semana para ouvir a Palavra de Deus, falar com Ele, e celebrar uma refeição comum em que o próprio Jesus é o alimento. A Eucaristia é o grande sacramento da família cristã, pois é a mesa do pão familiar que nosso Pai nos prepara, nosso Pai do Céu que nos ama e nos dá tudo de bom. Devemos preparar este encontro com alegria, procurando comparecer na graça de Deus e agradecendo ao Senhor este convite que nos faz. Maria, Mãe da Igreja e de cada um de nós, ajudar-nos-á a melhorar cada vez mais as nossas famílias. Amém.

Pe. Hebert Pereira
Paróquia de Nossa Senhora das Dores - Monteiro-PB
Diocese de Campina Grande

domingo, 21 de dezembro de 2014

Homilia IV Domingo do Advento



Estamos no quarto domingo do advento e neste domingo a Igreja nos convida a contemplar Maria. No evangelho de hoje o anjo vem ao encontro de Maria e diz: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor é contigo”. Detenhamo-nos nestas palavras, reflitamos sobre elas. Não é uma saudação normal. Orígenes comentando este texto diz: “O anjo saudou Maria com uma fórmula nova que não se encontra em nenhum lugar da Bíblia. Eu não recordo ter lido esta frase em nenhum outro lugar da Escritura. Nunca esta formula foi dirigida a um homem. Somente a Maria o anjo saúda assim”. Em Maria acontece a irrupção da graça. O nome de Maria é cheia de graça. 

Maria encontrou graça, isto é, favor junto de Deus; ela é cheia do favor divino. Como as águas preenchem o mar, assim a graça preenche a alma de Maria. Que é a graça que acharam aos olhos de Deus Moisés, os patriarcas ou os profetas em comparação com aquela que achou Maria? Com quem Deus esteve mais do que “com ela”? Nela Deus esteve presente não somente pelo poder e pela providência, mas também pela presença pessoal. Deus doou a Maria não somente o seu favor, mas deu-se totalmente a ela no seu próprio Filho. O Senhor está contigo! Que eleição tinha uma finalidade mais sublime que a de Maria, que dizia respeito à encarnação do Filho de Deus? 

Maria é cheia de graça por que toda é toda bela, toda graciosa. Esta graça, que consiste na santidade de Maria, tem também uma característica que a coloca acima da graça de qualquer outra pessoa, seja do Antigo ou do Novo Testamento. É uma graça incomtaminada. A Igreja expressa isso a chamando de “imaculada” em Maria está presente todas as virtudes. 

Estas palavras projetam uma luz especial sobre toda a pessoa de Maria. Dela podemos dizer com razão: Que tinha feito Maria para merecer o privilegio de dar ao Verbo a sua humanidade? Que tinha acreditado, pedido, esperado ou sofrido Maria, para entrar no mundo imaculada? Podemos afirmar com Santo Agostinho: “Procura aqui o mérito, procura a justiça, procura tudo o que quiseres, e vê se achas nela, desde o começo, algo senão graça?” Maria pode fazer sua a palavra do apóstolo e dizer: “Pela graça de Deus sou o que sou” (I Cor 15,10).

Na graça reside a completa explicação de Maria, a sua grandeza e a sua beleza. Porém, não esqueçamos que esta graça da qual Maria foi cumulada é também uma graça de Cristo. É a graça de Deus concedida em Jesus Cristo (ICor 1,4). Maria está aquém e não além da grande linha divisória; Ela não é banhada pelas águas que descem do Sinai e sim das que descem do calvário. A sua graça é graça da nova aliança. 

Em Maria podemos contemplar a novidade de Deus trazida pelo Novo Testamento. “Que novidade trouxe o Filho de Deus vindo ao mundo?”, pergunta-se Santo Irineu, e ele responde “Trouxe toda a novidade, trazendo a si mesmo”. A graça de Deus já não consiste em um dom de Deus, mas no dom dele mesmo; já não consiste em um ou outro favor, mas na sua presença. 

Mas por que tanta ação de Deus em Maria? Por que a Palavra coeterna com o Pai, sem principio, sem dividir-se desceu do alto por um ato de misericórdia e se fez carne em Maria. O Senhor anúncio para Davi que lhe prepararia uma casa e esta casa é Maria. 

Por isso, podemos dizer que Maria é a Teófora, isto é, a portadora de Deus. “Que maravilha! Deus entre os homens, o Infinito em um útero, o Eterno no tempo. E o mais extraordinário é que a concepção se dá sem a participação do homem, a humilhação é inefável. Oh Grande mistério! Deus se abaixa, se encarna e se faz uma criatura”. Dirá João, o Monge. E onde Deus faz isso? Na sua pequena serva. 

Por isso, digamos: Alegra-te Maria, princesa virgem! Alegra-te toda pura! Alegra-te receptáculo divino! Alegra-te candeeiro de Luz, restauração de Adão, resgate de Eva, monte santo, santuário bendito quarto nupcial de imortalidade. Alegra-te oficina onde se deu a união da natureza divina com a humana!

Pe. Paulo Sérgio Gouveia
Vigário da Catedral Diocesena
Diocese de Campina Grande

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Poesia

São Francisco assim falou
pra depois desfalecer
pois pra se encontrar com o pai
o corpo tem que morrer
pra ressurgir glorioso
em um novo alvorecer.

Frase simples de entender
com os olhos do coração
foi pra os seus seguidores
que ele deixou a lição
pra ninguém acomodar
no decorrer da missão.

Pra nossa Fraternidade
esta lição quer mostrar
que ao terminar um trabalho
outro deve começar
e na luz do Espírito Santo
tá pronto a se renovar.

Também na nossa família
isso deve acontecer
não deixe que a preguiça
faça o corpo amolecer
tornando as coisas simples
difícil de resolver.

Nunca espere pelo o outro
faça o que tem pra fazer
quem sabe surge outro caso
pra seu irmão resolver
e o que devias ter feito
vai ficar por se fazer.

Procure a oração
toda hora e todo dia
unindo-se a Jesus Cristo
sem esquecer de Maria
pois seu exemplo de vida
nos servirá como guia.

Que Deus nos abençoe.

PAZ E BEM!

Rinaldo Francisco Bezerra - O.F.S

Fraternidade Santa Clara de Assis, Jenipapo, Campina Grande, PB

domingo, 14 de dezembro de 2014

Homilia III Domingo do Advento



Com este domingo avançamos para o coração do advento. A preparação se torna mais intensa, a certeza de que o Senhor vem se torna mais clara, “aquele que nos chamou é fiel”. Por isso, a Igreja começa a liturgia deste domingo nos convidando a alegria. E Paulo na segunda leitura pedirá que “estejamos sempre alegres”. 

Somos convidados à alegria, a “exultar no Senhor”. O cristão se alegra, mesmo em meio às tribulações, por que o Senhor é fiel. Ele nos prometeu um Salvador e este está à porta, vai chegar. 
O evangelho deste domingo inicia dizendo que “Surgiu um homem enviado por Deus; seu nome era João”. A liturgia de hoje nos apresenta a figura de João, que veio para dar testemunho de Jesus. João era um asceta que vivia no deserto fazendo penitência e tinha sido enviado por Deus para apontar o Messias. 

Quando interrogado sobre quem era a sua pessoa João afirmou que “Eu sou uma voz que clama no deserto”. Comentando esta passagem diz Santo Agostinho: “João era a voz passageira, Cristo é a Palavra eterna. A voz sem a palavra é apenas um ruído que ressoa nos ouvidos, mas não alimenta o coração”.

Pensemos um pouco: tenho uma palavra para dizer, esta palavra está na minha mente, exteriorizo esta palavra através da minha voz que faz com que a palavra chegue ao coração do meu ouvinte. A voz se cala, mas a palavra permanece na minha mente, e também na mente do ouvinte. Assim acontece na Trindade, o Pai tem uma Palavra que é eterna e quer transmitir esta Palavra para os homens, então ele usa a voz, um mensageiro, assim ele faz com que a palavra que estava no seu seio seja colocada nos corações dos homens. Passa a voz e permanece a Palavra.

Na primeira leitura escutamos que “a terra faz brotar a planta e o jardim faz nascer à semente”. A terra, o jardim onde cai a semente da Palavra enviada pelo Pai e é proclamada pelo mensageiro é o nosso coração.

Mas João diz que ele é “a voz que grita no deserto”. Dizendo isso ele está fazendo o que deve fazer todo profeta: denunciar e anunciar. João denuncia a aridez do nosso coração, que sendo um deserto não conseguirá fazer com que a semente (Palavra) germine. E ao mesmo tempo ele diz que devemos preparar a terra do nosso coração para que a semente possa germinar. 

O que devemos fazer para que esta semente germine e de deserto nos transformemos em jardim? Precisamos regar com a água e na Bíblia a água é figura do Espírito Santo. Voltemos para Santo Agostinho: “O Espírito Santo é o Mestre interior. Ouço uma palavra que me é transmitida pela voz. Esta palavra entra pelos meus ouvidos, passa pela minha razão e chega ao meu coração. No meu coração está o Mestre interior (o Espírito Santo) que fará com que a palavra ouvida e meditada se torne compreensível para mim”. Podemos dizer que o Espírito Santo é o decodificador da Palavra de Deus, sem Ele não entenderemos nada, seremos um deserto.

Por isso, que preparar-se bem para viver o Natal não deve partir apenas de um esforço pessoal para mudar de vida como se isso dependesse de nós e sim pedir a graça de Deus, pedir o dom do Espírito. Paulo na segunda leitura dirá que: “Aquele que vos chamou é fiel; ele mesmo realizará isso”. Abramos o nosso coração para a ação do Espírito, participemos intensamente da liturgia do tempo do advento, rezemos com mais intensidade invocando o mesmo Espírito que pousou sobre Maria. Ele apontará o que precisamos fazer para receber bem o Senhor.

Pe. Paulo Sérgio Gouveia
Vigário da catedral diocesana
Diocese de Campina Grande