Neste domingo celebramos a festa da Santa Cruz. A cruz foi o instrumento usado por Jesus para ser exaltado com a finalidade de atrair todos a Ele. Cristo é exaltado “humilhando-se obediente até a morte e morte de cruz” vai dizer São Paulo na segunda leitura. O instrumento que no império Romano simbolizava a humilhação tornou-se para Jesus “o meio” para salvar para toda a humanidade.
Na primeira leitura ouvimos um texto do livro dos Números. Fala sobre as serpentes venenosas. A serpente aparece pela primeira vez na bíblia quando os nossos primeiros pais foram tentados. Deus lhes havia dado uma Palavra, mas eles escolheram ouvir a palavra da serpente e por isso, pecaram perdendo a comunhão com Deus. A palavra da serpente é uma palavra que conduz a morte.
Agora Israel está caminhando pelo deserto. Deus lhe havia concedido o pão do céu, o maná para que eles se alimentassem, mas Israel ficou enjoado com este alimento, que para eles é um “alimento miserável”. O maná é símbolo da Palavra de Deus, a única que pode dar vida ao homem. Negando a Palavra de Deus, o homem passa a ouvir a outra palavra que conduz a morte. Aqui aparece novamente a serpente que uma vez picando mata. São Beda dirá que: “as feridas das serpentes são os vícios que destroem a alma com a morte espiritual”.
Para salvar o povo das serpentes Deus mandou que Moisés fizesse uma serpente de bronze “como sinal” e a colocasse em uma haste. Olhando para ela o povo seria salvo. Santo Agostinho comentando este texto diz: “Ser curado por uma serpente é grande mistério! O que quer dizer ser curado do veneno de uma serpente olhando a serpente? Crer em um morto (Jesus) para ser salvo da morte”.
Este serpente de bronze é sinal de Jesus Cristo a verdadeira Palavra. Escutemos mais uma vez São Beda: “A serpente de bronze é uma figura de Jesus que veio nos salvar na semelhança da nossa carne pecadora, o mesmo que a serpente de bronze era semelhante às serpentes venenosas, porem não tinha o veneno mortal. Assim também o redentor do gênero humano não se vestiu da carne pecadora, mas de carne semelhante à carne do pecado sofrendo nela a morte para que os que cressem nele tivessem a vida”.
Já Santo Efrém diz: “A serpente atacou Adão no paraíso e o matou. Também atacou Israel no deserto e o matou. Assim como por meio da serpente de bronze viveram corporalmente os que corporalmente a contemplaram, assim também viveram aqueles que veem espiritualmente o corpo de Jesus cravado na cruz e acreditam nele.”
Mas podemos nos perguntar por que a palavra da serpente conduz a morte e a mensagem da cruz conduz a vida? Por que a palavra da serpente é uma palavra orgulhosa, prepotente que torna o homem egoísta e o afasta de Deus. Todas as vezes que nos deixamos guiar pelo orgulho perdemos o nosso referencial de criatura e passamos a viver na ilusão de que podemos tudo.
Enquanto que, a Palavra de Deus é uma palavra humilde e o que nos salva é a palavra humilde, é a humildade que atrai sobre nós o olhar de Deus, éa humildade que nos eleva para o céu. Este é o único caminho. Cristo não nos salvou tornando-se imperador romano, mas sim se deixando pregar em uma cruz, tornando-se humilhação, “esvaziando-se de si mesmo”. A cruz fere o nosso orgulho e o destrói. Por isso, que celebrar a exaltação da santa cruz é contemplar o crucificado e ir ao encontro dos crucificados. É ter consciência de que a salvação do homem não passa pelos grandes, pelos poderosos e sim pelos simples, pelos pobres. A lógica da cruz é uma palavra dura que nos ensina que muitas vitórias nossas não passam de verdadeiras derrotas por que não estão sobre o sinal da cruz. Vitorioso é aquele que segue o caminho da cruz, da humildade. Na realidade não celebramos a cruz e sim a vitória do crucificado, a vitória da palavra humilde.
Pe. Paulo Sérgio
Vigário paroquial da catedral diocesana
Diocese de Campina Grande
Nenhum comentário:
Postar um comentário