sábado, 6 de setembro de 2014

Homilia do XXIII Domingo Comum



O ponto de partida para a nossa meditação neste domingo é um trecho da primeira leitura: “Não devais a ninguém, a não ser o amor mútuo”. É esta a divida a qual todos nós devemos nos preocupar em pagar. Primeiro porque o amor mútuo é uma exigência da natureza humana, segundo por que é um mandamento da lei de Deus.
 
Amor orientado não apenas ao bem material dos irmãos, mas também ao espiritual e eterno. Porque todos os que quiserem alcançar a salvação estão obrigados a querê-la também para os outros e isso se torna uma condição para obter a salvação própria. 

É sobre este mesmo aspecto que se detém a primeira leitura. Deus constituiu Ezequiel como sentinela do seu povo para cuidar da sua formação espiritual e humana. Deus pedirá contas a Ezequiel caso este não cumpra com a sua missão denunciando os pecados do povo. Sempre a grande responsabilidade de todo aquele que tem a mesma missão do profeta: padres, bispos, pais de família professores. A sua salvação está condicionada ao zelo pela guarda do seu rebanho. Deixar perecer no erro um filho ou um irmão sem lhe estender a mão, é uma traição, um egoísmo de quer Deus pedirá contas. O temor de ser rejeitado ou considerado intransigente não justifica o lavar as mãos, ou o deixar passar.

Aquele que ama não encontrará paz enquanto não se aproximar do culpado e avisá-lo. Mas não esqueçamos que antes de qualquer aconselhamento devemos rezar para que o Senhor nos ilumine e ilumine também a pessoa que iremos corrigir. 

O evangelho coloca a missão de socorrer o irmão que erra para todos os cristãos. Ele nos oferece alguns critérios, em primeiro lugar a admoestação deve ser em segredo para salvaguardar o bom nome do culpado. Na prática muitas vezes acontece o contrario: fala-se mal do outro, murmura-se, calunia-se e muitas vezes manifesta-se o erro do outro publicamente.

O evangelho mostra que a nossa preocupação deve ser em primeiro lugar a salvação do irmão. O pecado da língua é terrível diante de Deus. Nosso Senhor fala a Santa Catarina: “Ao perceberes defeitos nos outros, reconhece-os primeiro em ti com muita humildade. Ele se corrigirá se for compreendido com bondade. Convence-te que não deves acreditar em opiniões”. É o amor que deve fundamentar nossas atitudes diante dos irmãos. A verdadeira correção fraterna nasce do amor. 

Santo Agostinho comentando este evangelho disse: “Quando alguém peca contra nós, sintamos grande preocupação, mas não por causa de nós mesmos, pois é digno de glória sofrer e não dar ouvidos a injúrias, por isso esquece a injúria que o teu irmão te fez, mas não esqueças a ferida que ele causou a si mesmo te injuriando. Corrige-o, pois a sós, com a vista posta na correção, respeitando a sua honra. Se ele te escuta ganhaste um irmão”. 

Corrige-o “respeitando a honra do irmão”, diz Agostinho. Devemos ter a maior reverencia para com a dignidade do outro. Que diferença o que vemos hoje! O que muitos fazem é expor o pecado do outro. Alias às vezes se usa até as fraquezas do irmão para tirar proveito próprio. Na realidade a correção fraterna ainda esta muito longe de ser bem vivenciada na Igreja. E isto é um sinal de que ainda não vivemos como irmãos, de que ainda não amamos.

Pe. Paulo Sérgio Araújo
Vigário paroquial da Catedral
Diocese de Campina Grande

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