A liturgia deste domingo tem como mensagem central o mandamento do amor, que deve ser uma prática constante da comunidade cristã. Jesus nos dá este mandamento em um momento muito solene, depois da eucaristia e antes de sua paixão.
O evangelho começa dizendo “depois que Judas saiu do Cenáculo”. Sabemos que esse Judas que sai do Cenáculo foi quem traiu Jesus. Nos versículos anteriores há o relata em que Jesus revela a ação de Judas, que vai traí-lo e o evangelista termina dizendo que “Era noite”. Orígenes, um escritor do século III, afirma que “Devemos entender esta expressão ‘era noite’ com um significado simbólico, ela é a imagem da noite que havia na alma de Judas quando Satanás pós em seu coração o desejo de trair Jesus”.
Sendo noite Judas é sinal de divisão, de discórdia e traindo Jesus ele revela o mal que está em seu coração. Parece que por uma opção Judas não assume em sua vida o mandamento do amor e sim a violência e por isso não ganhou de Jesus o maior presente que ele pode nos dar que é nos educar para o amor.
Depois da saída de Judas, Jesus afirma: “Agora o Filho do Homem foi glorificado”. Para João a glória de Jesus se dá na cruz, nela está a sua exaltação. Momento sublime em que ele salva toda a humanidade e nos concede o Espírito (Jo 19,30). Este momento está intimamente ligado ao mandamento do amor. Cristo não apenas nos dá um mandamento, mas nos mostra como Ele nos amou dando a sua própria vida na eucaristia que é o sacramento de sua paixão. No momento em que a humanidade mostrou o mais profundo ódio, matando o Filho de Deus, este pede para que seus seguidores amem uns aos outros e construam uma sociedade baseada no amor. É a marca dos seguidores de Jesus.
Para concretizar este amor lemos na primeira leitura um relato da vida nas primeiras comunidades. Vida fraterna alicerçada no mandamento de Cristo. A Palavra faz com que os discípulos construam comunidades que serão as escolas onde aprenderemos a amar. Porém, não nos enganemos, é preciso se manter firmes na fé e passar por muitos sofrimentos para poder entrar nesta “cidade de Deus”, como dirá Santo Agostinho, alicerçada pelo amor, pois existe também a “cidade dos homens”, dominada pelo ódio e pela competição. A forma de viver o novo mandamento é amar como Cristo amou doando a nossa vida, o nosso tempo, os nossos bens para que todos os irmãos possam ter condições de viver e de amar.
Os apóstolos reúnem a comunidade, organizam a escola onde se aprende a viver a caridade. Quero relatar um exemplo onde percebo que se vive um pouco esta escola da caridade. Aqui em Campina Grande existe uma casa de acolhida para as pessoas que vem de outras cidades ou Estados internar seus doentes e como acompanhantes não tem onde ficar. Esta casa fica próxima ao Hospital do Trauma. A frente da mesma está um rapaz chamado Charles. Nesta casa chega a ficar mais de vinte pessoas. Ali não tem empregados, o serviço é partilhado por todos, uns fazem a comida, outros limpam a casa, outros lavam a roupa. Um dia destes cheguei lá e comecei a conversar com um senhor de idade, agricultor, muito simples, que estava com o filho no Trauma e perguntei para ele quem lavava a roupa dele e este respondeu que “as mulheres o ajudavam a lavar”. Aqui está uma Escola da Caridade. Com certeza todas as pessoas que passam por esta casa sairão com uma lição: ajudar os outros a carregar a sua cruz e isto para São Paulo e para Jesus é viver na caridade. Estamos na escola do amor quando aprendemos a ajudar uns aos outros.
Aqui também há outra lição, nem sempre as nossas igrejas são escolas da caridade, muitas vezes são instituições corroídas pela inveja, maldade, competição, traição, fofocas e hipocrisias. Às vezes são mais ambientes onde revelamos as nossas atitudes doentias e nem um pouco animadas pela caridade. Estamos esclerosados.
Mas não desanimemos. O Espírito de Deus continua agindo independente de igrejas ou não. São estas iniciativas que nos dá a esperança de que um “um novo céu e uma nova terra” estão nascendo.
Pe. Paulo Sérgio Gouveia
Diocese de Campina Grande
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