domingo, 15 de março de 2015

Homilia - IV Domingo da Quaresma - Jo 3,14-21



Na liturgia de hoje contemplemos uma palavra de São Paulo: “Deus é rico em misericórdia”. O maior atributo de Deus é a sua misericórdia. Toda a história da Salvação é a história da misericórdia de Deus, misericórdia está que consiste em nos salvar da nossa miséria que em último grau é consequência dos nossos pecados. E a sua misericórdia é uma decorrência do seu grande amor que nos arrancou, segundo Paulo, da morte do pecado, nos ressuscitou e nos faz sentar ao lado de Cristo nos céus.

Pois o amante deseja que a amada seja igual ao amado e por isso, Deus por amor desce e assume a nossa miséria e nos transformando nos toma para si fazendo com que sentemos ao lado de Cristo e nos tornemos participantes da sua vida divina. 

Então pela segunda leitura aprendemos que Deus é rico em misericórdia. Mas, é preciso entender bem o que seja esta misericórdia. Vejamos a primeira leitura para aprendermos como é que o Senhor exerce esta misericórdia. O povo de Deus no Antigo Testamento pediu ao Senhor uma terra, um rei e um Templo. Deus lhes concedeu estes três pedidos e lhes deu terra, trono e templo com a condição de que este povo fosse fiel a Lei do Senhor. Esta foi à aliança que Deus fez com eles: vocês serão o meu povo e eu serei o vosso Deus, eu lhes concederei paz e vida plena e vocês obedecerão a minha Palavra. 

Mas quando o Povo de Deus obteve estes benefícios se esqueceram da aliança e abandonaram o Senhor não vivendo mais a sua Palavra. Começaram a imitar as práticas abomináveis das outras nações e seguiram outros deuses. Deus na sua misericórdia lhes enviou seus profetas que denunciavam o pecado daquele povo, mas eles não deram ouvidos aos profetas. Cada vez mais se afastavam de Deus. 

Deus não sendo escutado pelo povo usou a sua misericórdia de outra forma o Império da Babilônia invadiu Israel e o povo perdeu a terra, o trono e o templo. Nabucodonosor levou o povo cativo para Babilônia e lá eles viveram como escravos por setenta anos. Podemos imaginar o sofrimento e a humilhação que aquele povo sofreu. Parecia que Deus os havia abandonado. Lendo estas palavras na Bíblia podemos pensar que o Deus do Antigo Testamento era um Deus vingador e o do Novo misericordioso. Estamos errados, pois o Deus da Bíblia é um só e como afirmou Paulo Ele é rico em misericórdia. 

Deus é a própria misericórdia e ele exerce esta misericórdia não somente quando nos oferece favores, mas também quando nos faz assumir as consequências de nossos erros. Pois Ele é misericórdia até mesmo quando nos “castiga”. O amor que fez Deus dá ao povo tantos benefícios é o mesmo amor que fez com que Ele permitisse que o povo fosse levado como escravo para a Babilônia. A crise e o fracasso de Israel devem ser encarados tanto como uma consequência da sua infidelidade e da sua falta de confiança em Deus, como também de uma provação que fará com que Israel se volte para o Senhor. 

O sofrimento passa a ter uma dimensão pedagógica: Deus que é fiel e misericordioso, não abandona os seus, mas os chama através dos acontecimentos da historia seja de ordem pessoal ou comunitária a conversão. Por isso que, na provação não devemos nunca pensar que Deus nos abandonou e sim que “Ele me leva por este caminho para que eu possa fazer uma revisão de minha vida olhando os momentos de infidelidade para que eu possa mudar e ser fiel a Ele”. 

O autor da Carta aos Hebreus afirma “é para vossa educação que sofreis”. Deus é sempre amor e tem um amor tão grande que enviou o seu próprio Filho para que todo aquele que acredite em Jesus possa ser salvo. Ele sempre nos salva e Jesus está sempre conosco tanto nas horas alegres como nas horas amargas. A fé nos ensina que tudo o que acontece está no coração de Deus e sempre é o melhor para nós. 
Assim Santa Catarina de Sena diz “àqueles que se escandalizam e se revoltam com o que lhes acontece”: “Tudo procede do amor, tudo está ordenado à salvação do homem, Deus não faz nada que não seja para esta finalidade”. E Juliana de Norwich: “Aprendi, portanto, pela graça de Deus, que era preciso apegar-me com firmeza à fé e crer com não menor firmeza que todas as coisas irão bem... “Tu mesma verás que qualquer tipo de circunstância servirá para o bem”. Enfim acontece o que acontecer Deus é sempre rico em misericórdia. Amém

Pe. Paulo Sergio Gouveia
Vigário paroquial da catedral diocesana
Diocese de Campina Grande

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